terça-feira, 8 de outubro de 2013

GERARD JOHN SCHAEFER, o "Assassino da Ficção"



Gerard John Schaefer nasceu em Wisconsin, em 26 de março de 1946; era o mais velho de 3 filhos em uma família depois descrita como “turbulenta e conflitante”. Anos depois, entrevistado pelos psiquiatras nomeados pelo tribunal, ele se referiria a si próprio como “filho ilegítimo”, o produto de um casamento rápido. Ele descreveu seu pai como um alcoólatra abusivo verbalmente, adúltero flagrante e frequentemente ausente de casa em viagens de negócios ou outras. Em 1960, a família de Schaefer estava estabelecida em Fort Lauerdale, Flórida. Lá, ele se formou na escola secundária em 1964, e estava trabalhando no primeiro dos muitos anos de faculdade quando seus pais se divorciaram três anos depois.

Nessa época, se aceitarmos as declarações de Schaefer aos psiquiatras, ele esteve bem a caminho de seus próprios problemas. “Desde a tenra idade”, registrou o Dr. R. C. Eaton, “Schaefer teve numerosos problemas sexuais”. Os experimentos com escravidão e sadomasoquismo começaram por volta dos 12 anos. “Amarrei-me a uma árvore”, ele disse ao Dr. Mordecai Haber, “e fiquei excitado sexualmente e fiz algo para me machucar”. Na mesma época, ele começou a se masturbar e fantasiar sobre machucar outras pessoas, “particularmente mulheres”. Como se isto não fosse suficiente, Schaefer lembrou, “descobriu as roupas íntimas femininas – calcinhas. Algumas vezes usava-as. Queria me machucar”. 

A auto-aversão violenta começava nos jogos de tenra infância. Naqueles jogos, ele disse ao Dr. Haber, “eu sempre morria... queria morrer. Meu pai favorecia minha irmã, assim eu queria ser uma menina. Eu queria morrer. Eu era uma decepção para minha família como menino, para meu pai – ele amava minha irmã. Não podia agradar meu pai, assim, ao jogar, eu queria ser morto”. 

Schaefer disse ter visitado um psiquistra em 1966, procurando alívio para seu desvio sexual e fantasias homicidas, mas a terapia não ajudou. Se suas declarações posteriores são verdadeiras, ele continuou ouvindo vozes “dizendo para matar”. No mesmo ano, ele viajava pelo sul com Moral Rearmament, o alegre pessoal de “Up With People” que cantava que a liberdade não era livre. Schaefer pensou sobre o sacerdócio como um chamado mas ele foi dispensado do seminário de St. John onde, ele se lembrou, “disseram que não tinha fé suficiente”. A rejeição enfureceu Schaefer tanto que ele abandonou a Igreja Católica. 


O objetivo seguinte era um trabalho de ensino, pelo qual ele esperava instilar “valores americanos” como “honestidade, pureza, altruísmo e amor”, mas Schaefer foi duas vezes retirado dos programas de ensino estudantil por “tentar impor sua própria moral e valores políticos a seus estudantes”. Na segunda vez, o supervisor Richard Goodhart lembra-se: “disse a ele quando saiu que seria melhor nunca me deixar ouvir sobre suas tentativas de obter um emprego com qualquer autoridade sobre outras pessoas, ou eu faria qualquer coisa que pudesse impedi-lo”. 

Em 1968, Schaefer casou-se com Martha Fogg, mas não deu certo. Martha requereu o divórcio em maio de 1970, reclamando sobre “crueldade extrema”. Schaefer levou algumas semanas para se recuperar na Europa e na África do Norte naquele verão, voltando para casa com um novo objetivo na vida. Se ele não pudesse ser um padre ou um professor, seria um policial. Ele se inscreveu em diversos departamentos e foi rejeitado pelo escritório do xerife do Distrito de Broward após falhar em um teste psicológico, mas o pequeno Departamento de Polícia de Wilton Manors contratou-o mesmo assim. 

Desenhos de Schaefer

Em março de 1972, Schaefer ganhou uma comenda por seu papel em uma apreensão de drogas; um mês depois, em 20 de abril, ele foi demitido. A explicação varia: o Chefe Bernard Scott depois disse que Schaefer não tinha “um grama de bom senso”, enquanto o ex-agente do FBI Robert Kessler relata que Schaefer estava disciplinado para administrar infratores do tráfico feminino por meio do computador do departamento, obtendo informação pessoal e depois chamando-as para encontros. 

Desenhos de Schaefer

Qualquer que tenha sido a causa da demissão, Schaefer necessitava de um emprego. Perto do fim de junho, ele assinou com o Departamento do Xerife do Distrito de Martin, juntando suas coisas e mudando-se para Stuart, Flórida. Ele estava n o emprego fazia menos de um mês, quando cometeu um “erro estúpido” que custaria sua carreira e sua liberdade. 

Em 21 de julho de 1972, Schaefer pegou duas caronistas, Pamela Wells, 17 anos, e Nancy Trotter, 18 anos, na estrada próxima a uma praia local. Ele disse a elas (falsamente) que pedir carona era ilegal no Distrito de Martin, então levou-as de volta para uma casa a meio caminho de onde eles estavam. Schaefer ofereceu-se para encontrá-las na manhã seguinte, fora do horário de trabalho, e levá-las, ele próprio, para a praia. As meninas concordaram, mas, em vez de levá-las à praia em 22 de julho, Schaefer levou-as para a pantanosa ilha Hutchincon fora da estrada estadual. Ali, ele começou a fazer observações sexuais, então, sacou uma arma e disse às meninas que planejava vendê-las como “escravas brancas” para o sindicato de prostituição estrangeiro. Forçando-as para fora do carro, ele amarrou as duas meninas e deixou-as balançando sobre as raízes da árvore com os nós ao redor de seus pescoços, como risco de enforcarem-se se escorregassem e caíssem. Schaefer deixou-as, então, prometendo retornar em breve, mas as meninas escaparam em sua ausência e alcançaram a estrada, onde acenaram para um carro da polícia que passava. Elas não tiveram dificuldade em identificar seu agressor, pois, Schaefer disse-lhes seu nome. 

A essa altura, Schaefer tinha descoberto a fuga delas e telefonou para o xerife Richard Crowder, dizendo: “fiz uma coisa boba, você vai ficar bravo comigo”. Havia excedido sua posição, 

Schaefer disse, tentando assustar as meninas para não pedirem carona no futuro para o bem delas. Despedido no ato, acusado de prisão falsa mais duas acusações de agressão qualificada, Schaefer foi liberado com fiança de 15 mil dólares. No julgamento de novembro de 1972, ele admitiu a culpa em uma acusação de agressão e outra acusações foram abandonadas. O juiz D. C. Smith chamou Schaefer de “idiota imprudente” e sentenciou-o a um ano na prisão do Distrito a ser seguida por uma condicional de 3 anos. O ex-oficial começou a cumprir sua sentença em 15 de janeiro de 1973. 

Entretanto, as revelações mais chocantes ainda estavam por vir. Duas outras meninas estavam desaparecidas da vizinhança, e elas não tiveram tanta sorte como Trotter e Wells. Em 27 de setembro de 1972, enquanto Schaefer estava livre sob fiança aguardando julgamento, Susan Place, de 17 anos e Georgia Jessup, de 16 anos, desapareceram de Fort Lauderdale. Os pais de Susan disseram que as meninas foram vistas pela última vez em sua casa, saindo com um homem mais velho chamado “Gerry Shepherd” para “tocar violão” em uma praia próxima. Elas nunca mais voltaram, mas Lucille Place tinha anotado a placa de Schaefer, juntamente com a descrição de sua Datsun azul-esverdeada. Em 25 de março de 1973, investigadores morosos rastrearam a placa até Schaefer, quando ele já estava na prisão pela agressão das meninas adolescentes. 

Restos encontrados pertencentes a
Susan Place e Georgia Jessup

Schaefer negou qualquer contato com Place e Jessup, mas o caso começou a deslindar-se quando os restos mortais foram encontrados na ilha Hutchinson por três homens que coletavam latas de alumínio. Quatro dias depois, as vítimas foram identificadas pelos registros dentais. Susan Place foi atingida por tiro no maxilar, e os detetives observaram que a evidência da cena do crime indicava que as duas meninas foram “amarradas à árvore e assassinadas”. Em 7 de abril, a polícia pesquisou a casa da mãe de Schaefer, onde ele mantinha itens pessoais armazenados em um quarto extra. A evidência encontrada na busca incluiu um esconderijo de joias femininas, mais de cem páginas de escritos e retratos mostrando assassinatos com mutilação de mulheres jovens, recortes de jornais sobre duas mulheres desaparecidas desde 1969, e pedaços de carteira de identidade pertencentes às caronistas desaparecidas Collette Goodenough e Barbara Wilcox, ambas de 19 anos. As duas meninas foram vistas pela última vez em 8 de janeiro, uma semana antes de Schaefer ser enviado para a cadeia do Distrito de Martin e, quando seus restos mortais foram encontrados no início de 1977, nenhuma causa de morte pode ser determinada; assim, nenhuma acusação foi registrada. 

Quanto aos recortes de jornais, um referia-se ao desaparecimento em fevereiro de 1969 de uma garçonete, Carmem Hallock, aparentemente raptada de sua casa. Os itens de suas joias foram encontrados no esconderijo de Schaefer, juntamente com o dente de ouro identificado pelo dentista de Hallock, mas uma vez mais nenhuma acusação foi registrada. A segunda mulher desaparecida, Leigh Bonadies, era uma vizinha de Schaefer na ocasião, em setembro de 1969. Ele tinha reclamado de ela escarnecer dele ao desnudar-se com as cortinas abertas, e um pedaço de sua joia foi encontrado entre seus pertences, mas nenhuma acusação foi registrada quando os restos mortais foram finalmente encontrados em 1978. Mais joias ligaram Schaefer ao desaparecimento de Mary Briscolina, de 14 anos, que desapareceu do Distrito de Broward com Elsie Farmer, de 13 anos, em outubro de 1972. Seus restos foram encontrados no início de 1973, porém, uma vez mais nenhuma causa da morte pode ser determinada e nenhuma acusação foi registrada. 

Gerard nos inicio dos anos 90
A relação de vítimas suspeitas cresceria com o tempo, mas Schaefer enfrentou as acusações de somente dois assassinatos. Ele foi indiciado, em 18 de maio de 1973, pelo assassinato de Jessup e Place. Detido sem fiança aguardando o julgamento, ele foi condenado em duas acusações de homicídio doloso em outubro de 1973, recebendo as penas concomitantes de prisão perpétua. Numerosas apelações, algo em torno de 20, foram uniformemente rejeitadas por diversos tribunais estaduais e federais. 

Schaefer estava quase esquecido em 1990, quando a antiga namorada de escola secundária, Sondra London, publicou uma coletânea de suas histórias sob título Serial Fiction. Mais volumes seguiram-se com Schaefer insistindo que suas histórias eram arte. A polícia e promotores descreveram-nas como descrições que escassamente encobrem crimes reais. Em cartas particulares a advogados e conhecidos, o próprio Schaefer admitiu todos esses. Atesta sua referência à história intitulada “Murder Demons”, em uma carta datada de 09 de abril de 1991: “Que crimes estou supostamente confessando: Farmer? Briscolina? O que acha que “Murder Demons” é? Você quer confissões mas não as reconhece quando são ungidas em você e nós apenas começamos”. 

Sondra London

Outra correspondência rapidamente eleva a contagem de corpos. “Como sabe”, ele escreveu em 20 de janeiro de 1991, “sempre repeti a lista de Stone (Robert, advogado distrital) de 34. Em 1973, sentei-me e escrevi minha própria lista. Como me lembro, minha lista estava acima de 80”. No dia seguinte, tendo mais tempo para refletir, Schaefer continuou: “Não estou reivindicando um grande número... diria que está entre 80 e cem. Mas acima de oito anos e três continentes... uma prostituta afogada em seu próprio vômito enquanto me observava a desmembrar sua namorada. Não estou certo sobre o que se conta como morte válida. Uma grávida conta como dois assassinatos? Pode ser confuso!” 

Anos depois, as cartas de Schaefer voltaram para assombrá-lo, quando foi descrito em diversos livros de crimes como um verdadeiro serial killer prolífico. Como resposta, uma série de ações legais registradas contra diversos autores por difamação, foram uniformemente desconsideradas pelos tribunais. Em um desses casos, o juiz William Steckler oficialmente denominou Schaefer como um serial killer, considerando-o “inegavelmente ligado” a diversos assassinatos além dos dois pelos quais ele foi condenado. “Ele se vangloria das associações particulares e públicas que, com base nos relatórios, consideram-no um serial killer de proporções mundiais”. Steckler escreveu, “e é somente a perversidade arrogante que o impele para isto e as ações legais similarmente nos méritos nos quais ele alega de outra forma”. 


Vincent Rivera

A sorte de Schaefer acabou em 3 de dezembro de 1995, quando outro interno entrou em sua cela, cortou sua garganta e apunhalou seus olhos. Os oficiais da prisão identificaram o assassino como o interno Vincent Rivera, cumprindo prisão perpétua, mais 20 anos por dois assassinatos em Tampa, mas nenhum motivo específico foi encontrado. Parece que a reputação de Schaefer como um “rato” e problemático pegou-o finalmente.

E com a ameaça de litígio sem sentido enterrada, os tímidos oficiais de execução da lei sentiram-se livres para expressar seus pontos de vista sobre Schaefer. Bill Hagerty, um ex-agente do FBI que estudou Schaefer para VICAP no início da década de 1980, chamou-o “um dos mais doentes. Se eu tivesse uma lista dos cinco mais, que incluiria todos os serial killers que entrevistei em todo país, ele definitivamente estaria entre os cinco”. Para Shirley Jessup, ainda lamentando sua filha, o assassinato de Schaefer foi simplesmente um caso de justiça atrasada. “Gostaria de enviar um presente ao rapaz que o assassinou”, ela disse aos repórteres. “Sempre acreditei que ele estaria recebendo isso. Apenas desejava que antes fosse cedo que tarde”. 


Documentário sobre Gerard
em inglês (sem legenda)

Fonte: “Enciclopédia de Serial Killers”, de Michael Newton
           Profiler of a serial killer, hubpages
           Okultura, site tcheco
           Skcentral

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