terça-feira, 24 de setembro de 2013

JOHN WAYNE GACY, o "Palhaço Assassino"


John Wayne Gacy Junior nasceu em 1942 em Chicago, único filho entre duas irmãs. O pai alcoólatra moldaria seu caráter. Na vida adulta, assumiria várias características dele, tornando-os cada vez mais parecidos.


John Wayne Gacy, o pai, era guiado pelo medo de não ser bom o bastante (deficiência de percepção), sempre achava que os outros eram melhores que ele e o ultrapassavam na carreira profissional. Tinha um profundo desprezo por homossexuais e políticos. Para corrigir sua deficiência de percepção, o pai tinha de ser melhor que todos à sua volta, especialmente melhor que o seu filho.

Para justificar os abusos que Gacy, o pai, cometia contra o filho, sua mãe explicava a ele que o pai tinha um tumor crescendo no cérebro e que, quando se descontrolava, não devia ser enfrentado. Se ficasse muito nervoso, o tumor poderia se romper e causar-lhe a morte. Todas as refeições na casa da família Gacy eram regadas a briga. 


Após este “delicioso” encontro, o pai descia para o porão, onde se embebedava.
Muito cedo, acusou o filho de ser homossexual e o ridicularizava e diminuía por isso. Gacy filho era punido por qualquer coisa que o pai considerasse um erro. Nada do que fazia parecia suficiente para agradá-lo. Sua relação com a mãe e as irmãs, por outro lado, era bastante forte. A mãe também apanhava do marido, e dividia com o filho as dores e humilhações causadas pelas surras.

Apesar de ter como pai uma pessoa tão desagradável, o filho o amava profundamente e desejava conseguir sua aprovação e devoção a qualquer preço. Jamais conseguiu ter intimidade ou proximidade com ele, problema que o perseguiria por toda a vida e causaria as insônias incuráveis de que sofria.

Este assassino também tinha problemas físicos: aos 11 anos, em consequência de uma batida de um balanço na cabeça, originou-se um coágulo que só seria descoberto cinco anos depois. Aos 16 anos, depois de vários desmaios e hospitalizações do que pareciam ser ataques epilépticos, o coágulo foi descoberto e tratado com medicamentos. Jamais os médicos conseguiram convencer o pai de Gacy de que ele desmaiava de verdade, e não apenas fingia para chamar a atenção dos adultos.

Aos 17 anos foi diagnosticado portador de uma desconhecida doença cardíaca, o que causaria várias internações de Gacy durante sua vida, mas as dores que sentia jamais foram explicadas. Nunca sofreu um ataque cardíaco.

Na escola, mantinha relacionamento normal com os amigos, e seus professores gostavam bastante dele. Deixou os estudos depois do ensino médio e viajou para Las Vegas, onde peregrinou por diversos empregos, inclusive de zelador de funerária.


Casou-se em 1964 com Marlynn Myers, filha do dono dos restaurantes Kentucky Fried Chicken, e teve dois filhos. Entre 1965 e 1967, John W. Gacy era um modelo de cidadão, ao mesmo tempo que colecionava jovens vítimas que adorava punir. Sua esposa e amigos estavam absolutamente despreparados para a prisão de John, em maio de 1968, sob a acusação de coação de um jovem a atos homossexuais espalhando-se por um período de meses. Aquelas acusações ainda estavam pendentes quando Gacy contratou um assassino adolescente para espancar a testemunha do promotor, e mais acusações foram registradas. Conseguindo uma negociação, Gacy confessou-se culpado de sodomia e outras acusações foram desconsideradas.


Sentenciado a dez anos na prisão, ele provou ser um prisioneiro modelo e foi liberado em 18 meses.
Divorciado enquanto estava na prisão, rejeitou os dois filhos que tivera com a primeira esposa, tornou a se casar em 1972 com Carole Hoff (essa segunda esposa tinha 2 filhas) e passou a viver em uma vizinhança de classe média do subúrbio de Dês Plaines, onde era popular com seus vizinhos e oferecia festas temáticas elaboradas para os feriados. Por outro lado ele foi ativo como Pogo, o Palhaço, representando com maquiagem completa em festas de crianças e eventos caritativos. Mas apesar da vida social intensa, problemas de interesse sexual pela esposa causaram mais um divórcio em 1976. Sua vida política ia de vento em popa, mas novas acusações por molestar um menor acabaram com seus sonhos de ascensão no Partido Democrata Americano.



OS FATOS

Em 11 de dezembro de 1978, Robert Piest, 15 anos, trabalhava em uma farmácia. Sua mãe tinha ido buscá-lo no horário de saída, mas o garoto pediu que ela aguardasse um pouco, pois antes de ir para casa, conversaria com um empreiteiro que lhe estava oferecendo um emprego. A mãe ficou por ali olhando as prateleiras pacientemente, torcendo pelo esforçado filho que tinha. Pediu que ele não demorasse pois o bolo de seu aniversário o esperava pronto, em casa. O tempo foi passando e Robert não voltava. Depois de sair e entrar na farmácia várias vezes sem conseguir encontrar o filho, a mãe do menino resolveu chamar a polícia.

O tenente Joseph Kozenczak respondeu ao chamado. Depois de ser informado de que o nome do empreiteiro que havia oferecido emprego a Robert era John Wayne Gacy, resolveu ir até a casa dele para verificar. Já fazia três horas que o garoto estava desaparecido.



Quem atendeu à porta foi o próprio empreiteiro. O tenente explicou-lhe sobre o garoto que desaparecera e pediu que o acompanhasse até a delegacia, para prestar depoimento. Gacy disse ao tenente que não podia sair de casa naquele momento, pois havia acontecido uma morte na família e ele precisava atender a algumas ligações telefônicas. Assim que pudesse, iria até lá.

Horas depois, em seu depoimento para o tenente Kozenczak, o empreiteiro John Wayne Gacy disse nada saber sobre o desaparecimento do tal menino, mas assim que o homem saiu da delegacia, o policial resolveu checar o passado dele. Surpreendentemente, sua ficha criminal se encaixava com perfeição no caso.


Quanto mais pesquisava sobre a vida de Gacy, mais espantado o tenente Kozenczak ficava. Tratava-se de homem de grande prestígio na cidade e ninguém parecia saber de seus antecedentes. Era membro do Conselho Católico Inter-Clubes, membro da Defesa Civil de Illinois, capitão-comandante da Defesa Civil de Chicago, membro da Sociedade dos Nomes Santos, eleito homem do ano, Jaycee (Membro da Câmara de Comércio Jovem) e tesoureiro do Partido Democrata. Muitos de seus amigos tinham ouvido boatos sobre sua homossexualidade, mas não deram muita atenção, pois Gacy fora casado duas vezes e tinha um casal de filhos.

Era proprietário de uma empreiteira, PDM Contractors Incorporated, que executava serviços de pintura, decoração e manutenção. Gacy sempre contratava menores de idade, alegando que os custos eram mais baixos.

Cartão de Gacy

De posse de todas essas informações, confuso e desconfiado, o tenente Kozenczak obteve um mandado de busca para a casa do suspeito. Ele acreditava que encontraria Robert Piest ali. Encontrou muito mais...
Ao vasculhar a residência do empreiteiro, a polícia se deparou com várias evidências suspeitas:

· Anéis gravados, alguns com iniciais
· Sete filmes eróticos suecos
· Vários comprimidos do sedativo Valium e nitrato de amido
· Fotos coloridas de farmácias
· Livros sobre homossexualidade
· Um par de algemas com chaves
· Uma tábua com dois buracos de cada lado, de uso desconhecido
· Uma pistola
· Emblemas da polícia
· Um pênis de borracha preta
· Seringas hipodérmicas
· Roupas muito pequenas para serem de Gacy
· Um recibo de filme fotográfico da Farmácia Nisson (que depois descobriria ter pertencido a Robert Piest)
· Uma corda de náilon
· Duas licenças de motorista, não no nome de Gacy
· Maconha e papeis para enrolar baseados
· Um canivete
· Uma mancha no tapete
· Um livro de endereços

Três automóveis também foram confiscados. Em um deles, encontraram-se fios de cabelo que, depois de examinados por um laboratório forense, seriam identificados com de Robert Piest.


Durante todo o tempo em que recolhiam essas evidências, os policiais sentiam odores muito fortes, que pareciam vir de baixo da casa. Era provável que se tratasse de esgoto ou água servida, mas não custava verificar. A casa de Gacy foi construída de forma a ter um espaço entre o chão e a laje do piso, onde uma pessoa só conseguiria entrar rastejando. Além do odor, nada chamou a atenção.

John Gacy foi intimado a comparecer à delegacia para explicar os objetos encontrados em sua casa. Convocou seu advogado imediatamente. Foi acusado por porte de maconha e do sedativo Valium, mas a polícia não tinha mais nada contra ele. Tiveram de liberá-lo, mas mantiveram vigilância vinte e quatro horas sobre o suspeito.
Outras novidades começaram a aparecer no caso de John Gacy.


Em março de 1978, Jeffrey Ringall, na época com 27 anos, pegou uma carona num Oldsmobile preto. O motorista, homem grande e pesado, era bastante simpático. No meio do trajeto, sem nenhum aviso de que algo ameaçador estava para acontecer, o homem agarrou-o, colocando sobre seu nariz um pano encharcado com clorofórmio. Ringall perdeu a consciência. Durante o caminho, acordou algumas vezes, mas logo era obrigado a cheirar mais clorofórmio e perdia os sentidos.

No dia seguinte, quando recobrou a consciência, estava completamente vestido embaixo de uma estátua, em pleno Lincoln Park. Não fazia a menor idéia de como tinha ido parar ali. Foi até a casa da namorada, sentindo-se muito mal. Ao tirar a roupa, não puderam acreditar no que viam: lacerações na pele, queimaduras, hematomas. Ringall ficou internado no hospital durante seis dias e sofreu estragos permanentes no fígado causados pelo clorofórmio que inalou em grande quantidade. 

Ao ser interrogado pela polícia, aquela vítima só se lembrava de que um homem gordo o havia atraído para seu carro, um Oldsmobile preto. Lembrava-se também de ter sido levado a uma casa, onde foi atacado sexualmente e espancado com um chicote, mas não recordava a localização dela. Ficou difícil para a polícia investigar com tão poucos dados.

Já em dezembro do mesmo ano, inconformado com a situação, Ringall jurou encontrar seu abusador. Forçando a memória, lembrou-se de ter visto uma certa avenida no caminho, num dos breves momentos em que esteve consciente dentro do carro. Não teve dúvidas: pegou o próprio carro e estacionou-o na avenida por horas, todos os dias, até ver passar um Oldsmobile preto. Seguiu-o até a casa do motorista, obteve o nome do morador e entrou com uma queixa-crime de ataque sexual contra John Wayne Gacy.

Os exames forenses nos artigos recolhidos como evidência na casa de Gacy também começavam a frutificar. Um dos anéis encontrados pertencia a John Szyc, desaparecido em janeiro de 1977. Teoricamente, ele havia vendido seu carro para o empreiteiro dezoito dias depois de seu desaparecimento. A assinatura no documento do carro era falsa.

Também descobriram, nas investigações, que vários empregados de John Gacy haviam desaparecido:

John Butkovich, 17 anos, empregou-se na PDM Contractors para financiar sua paixão por carros. Dava-se muito bem com Gacy, até que este se recusou a pagar-lhe duas semanas de serviço. Butkovich foi até a casa do empreiteiro para cobrá-lo, acompanhado de dois amigos. Tiveram uma grande briga. O garoto ameaçou seu empregador, dizendo que procuraria as autoridades competentes para contar que ele sonegava imposto. Gacy ficou furioso. Butkovich e seus amigos deixaram a casa, ele deixou cada colega em sua respectiva residência e desapareceu para nunca mais ser visto.

Michael Bonnin, 17 anos, gostava de fazer serviços de carpintaria e sempre se mantinha ocupado fazendo diversos projetos. Em junho de 1976, no caminho para encontrar o irmão de seu padrasto, desapareceu. Estava restaurando um toca-disco automático para John Wayne Gacy.

Billy Carroll Jr., 16 anos, com vários antecedentes criminais menores, passava a maior parte do tempo nas ruas da área residencial da cidade. Fazia dinheiro arrumando encontros entre meninos homossexuais e clientes adultos, por uma pequena comissão. Desapareceu em 13 de junho de 1976. John Wayne Gacy era um de seus clientes.
Gregory Godzik, 17 anos, trabalhava na PDM Contractors e restaurava carros. Em 12 de dezembro de 1976, depois de levar a namorada à casa dela, disse que iria para casa. No dia seguinte a polícia encontrou seu Pontiac abandonado. Nunca mais foi visto.

Robert Gilroy, 18 anos, desapareceu em 15 de setembro de 1977. Seu pai, um sargento da polícia de Chicago, começou a procurá-lo assim que ele não compareceu a um encontro com colegas para andar a cavalo. Sua busca não resultou em nada. Jamais encontrou seu filho.

Desenho: em preto, localização de alguns
corpos encontrados sob a casa de Gacy

A polícia também descobriu que o recibo de filme da Farmácia Nisson era de um colega de trabalho de Robert Piest, que havia entregado a ele no dia de seu desaparecimento para que fosse revelado. Resolveram investigar de novo a casa de Gacy, que, pressionado, acabou confessando que matara uma pessoa, mas que o crime fora em legítima defesa. Fez um mapa para os investigadores, assinalando um local na garagem onde havia enterrado o corpo.

Antes de cavarem o local marcado, acompanhados de um legista, este identificou o cheiro terrível e pediu a verificação do espaço embaixo da casa do empreiteiro. Não demoraram para desenterrar três corpos em decomposição, e jamais a polícia imaginou a magnitude do que seria encontrado ali.


Gacy foi o responsável por 33 vítimas de tortura e assassinato. Quando o chão de sua casa foi removido, vários corpos em covas rasas foram encontrados. Para evitar a decomposição, Gacy os cobrira com cal. Acabou fazendo um meticuloso mapa para a polícia, indicando com precisão 27 corpos ali enterrados. Outros dois cadáveres foram encontrados embaixo do chão da garagem. No rio Des Plaines em Illinois também foram encontradas vítimas, pois Gacy explicou a polícia que começou a jogá-las ali por não ter mais local disponível para enterrá-las em sua casa. Também justificou que sofria de constante dor nas costas, que o impedia de cavar tanto.

O corpo de Robert Piest só foi encontrado em 1979, no rio Illinois. Na sua necropsia, ficou comprovado que ele morrera sufocado com toalhas de papel, cujos restos ainda foram encontrados em sua garganta. A família do garoto processou Gacy, o Departamento Condicional do Estado de Iowa, o Departamento Correcional e o Departamento de Polícia de Chicago para obter uma indenização de 85 milhões de dólares por procedimento negligente.

Apesar de todos os esforços e métodos utilizados para a identificação das vítimas, apenas nove corpos foram identificados, de um total de 33 encontrados. Hoje, com a possibilidade de exames de DNA, tudo seria mais fácil.

Algumas de suas vítimas

Gacy atraía as vítimas para sua casa com promessas de emprego em construção civil ou pagamento em troca de sexo. Uma vez ali, eram algemados para a demonstração de um truque: a pessoa não podia mais se soltar!

A maioria de suas vítimas sofria ataque sexual, era torturada e estrangulada com uma corda apertada vagarosamente por intermédio de uma machadinha, no estilo garrote. Gostava de ler passagens bíblicas enquanto fazia isso. Quase todos os garotos morreram entre 15h e 18h. Algumas vezes, Gacy se vestia como seu alter ego, o palhaço Pogo, enquanto torturava suas vítimas. Para abafar os gritos delas, colocava uma meia ou cueca na boca delas. Essa era sua assinatura: todas as suas vítimas tinham as roupas de baixo na boca ou na garganta. Em certas ocasiões, chegou a matar mais de uma vítima no mesmo dia.

Também contou à polícia que guardava o corpo da vítima sob a cama ou no porão antes de enterrá-lo embaixo da casa. Segundo ele, seus crimes eram cometidos por sua outra personalidade, que ele mesmo chamava de Jack Hansen. Este argumento nunca ficou comprovado pelos 13 psiquiatras que testemunharam em seu julgamento.


Em seus depoimentos para a polícia, John Gacy alegou que havia quatro Johns: o empreiteiro, o palhaço, o político e o assassino. Muitas vezes, durante seu depoimento, ao ser questionado sobre algum detalhe dos crimes, ele respondia: “Você tem de perguntar isso a Jack.” Ao terminar o diagrama do local onde estavam enterrados os corpos, embaixo de sua casa, Gacy dramaticamente desfaleceu. Ao acordar, disse que Jack havia feito o diagrama.

Declarou lembrar-se, e de forma incompleta, de apenas cinco dos assassinatos que cometera. Alegava que mesmo essas memórias não pareciam ser dele, e sim de outra pessoa. Ele era apenas uma testemunha. A grande maioria dos assassinos hediondos alega ter múltiplas personalidades, como meio de escapar da pena de morte. Por esta razão, essas alegações são vistas com ceticismo pelos médicos, advogados e policiais.

Nos testes psicológicos a que foi submetido pelo Dr. Thomas Eliseo, ele se negou com veemência a desenhar um corpo humano do pescoço para baixo, como se fosse algo ruim ou de que devesse se manter longe.

Quando examinado pelo Dr. Robert Traisman, Gacy foi mais cooperativo e desenhou o corpo todo. Em sua análise, achou significativo o fato de o paciente desenhar a mão esquerda cheia de detalhes e a mão direita muito pequena, coberta com uma luva. Sua explicação para isso no tribunal foi que o lado direito era seu lado masculino, enquanto o esquerdo simbolizava o feminino. Interpretou esse desequilíbrio como se Gacy tivesse dificuldade na sua identidade sexual. Ao desenhar uma figura feminina para o mesmo psicólogo, esta foi considerada “maciça, com aparência masculina e braços de jogador de futebol americano.” A figura feminina usava um cinto de duas voltas, as pontas caindo sobre sua área genital, o que o Dr. Traisman considerou “um óbvio símbolo fálico, sugerindo forte ansiedade sexual.”

Quando solicitado a desenhar qualquer coisa de sua escolha, Gacy desenhou sua própria casa, com os tijolos detalhados em excesso, tudo reproduzido fielmente. Para o Dr. Traisman, isto refletia uma “tremenda compulsão e perfeccionismo.”

Todos os sete psiquiatras que examinaram Gacy para seu julgamento concordaram que ele era inconsistente e contraditório, mas nenhum deles o diagnosticou como portador de múltiplas personalidades. Nenhum deles achou que ele era incapaz para ser julgado.

O Dr. Lawrence Freedman diagnosticou-o um pseudoneurótico esquizofrênico paranóico. Disse que Gacy era um homem que não tinha certeza de quem era, e de tempos em tempos manifestava diferentes aspectos de sua personalidade.
O Dr. Richard Rapport o descreveu como portador de uma personalidade fronteiriça e que, invariavelmente, tudo o que dizia apresentava dois lados.

O Dr. Eugene Gauron diagnosticou Gacy como um sociopata.
O Dr. Robert Reifman o considerou narcisista e mentiroso patológico.
O julgamento de John Wayne Gacy teve início em 6 de fevereiro de 1980 em Chicago, Illionois.

Mais uma vez num caso envolvendo crime em série a defesa do assassino alegou insanidade e a acusação, sanidade, maldade e premeditação.

Vítima de Gacy

A acusação iniciou os trabalhos, por intermédio do promotor Robert Egan. Foram ouvidas 60 testemunhas sobre sua sanidade mental. Muitos psiquiatras também testemunharam sobre a sanidade réu durante os ataques mortais. Todos concluíram que ele estava na total posse de suas faculdades mentais quando de seus atos, e que saiba muito bem diferenciar o certo do errado.

A primeira testemunha de defesa, composta pelos advogados Motta e Amirante, chamada para depor, para surpresa de todas, foi Jeffrey Ringall. Esperava-se que ele fosse testemunha da acusação, e não da defesa. Seu testemunho foi curto. A acusação queria que ele dissese ao júri que achava que Gacy não tinha o menor controle sobre suas próprias ações. Enquanto contava os detalhes do ataque sexual e tortura que sofrera, Ringall começou a vomitar de modo incessante e a chorar, descontrolado. Seu depoimento foi interrompido, ele não tinha condições emocionais de continuar.

Para provar a insanidade de Gacy, seus advogados chamaram amigos e família para depor. Sua mãe contou como ele havia sofrido abusos físicos e verbais do pai. Suas irmãs disseram ter presenciado as inúmeras vezes em que foi abusado e humilhado. Outros que testemunharam em sua defesa contaram ao júri como ele era generoso e bom, ajudava os necessitados e sempre tinha um sorriso para todos. Alguns depoimentos acabaram atrapalhando a defesa de Gacy, pois seus amigos se negaram a declarar que o achavam insano, e sim homem dotado de uma inteligência brilhante.

Outros psiquiatras foram chamados para dar seu próprio diagnostico. Todos declararam que Gacy era esquizofrênico e sofria de múltiplas personalidades e comportamento anti-social. Declararam que sua doença mental o impedia de perceber a magnitude de seus crimes.

Demorou apenas duas horas de deliberação para que o júri decidisse em quem acreditar: John Wayne Gacy foi considerado culpado da morte de 33 jovens e recebeu pena de morte por injeção letal.
Foi mandado para o Menard Correctional Center, em Chester, Illinois, onde, depois de anos de apelações, foi executado.


ANOS DE PRISÃO

Durante os catorze anos em que ficou preso, Gacy teve a mesma rotina: acordava às 7h, esfregava o chão de sua cela de 1,80 por 2,5 metros, olhava sua correspondência volumosa e trabalhava em suas pinturas. Ao ir para a cama, às 3h da madrugada, já tinha anotado cada ligação telefônica, visitantes (mais de 400) e cartas recebidas (27 mil), assim como cada pedaço de comida que ingerira. Estas anotações haviam se tornado uma obsessão.

Na prisão dedicou-se em demasia à pintura artística. Seu tema principal eram palhaços, e muitas pessoas pagaram caro para obter algumas de suas telas. Seus quadros foram exibidos em galerias por toda a nação americana. Gacy pintou vários auto-retratos, palhaços, Jesus e Hitler, chegando a vender cada tela de 100 dólares até 20 mil dólares. Pintava também artistas pop, como Elvis Presley, e personagens Disney, como Roger Rabbit e Branca de Neve e os Sete Anões. Criminosos notórios também foram retratados, como Charles Manson, Al Capone e John Dillinger. Chegou a ganhar perto de 140 mil dólares com sua arte macabra. Ficou tão conhecido que foi habilitado a instalar um número de telefone 0900, onde podiam ouvir mensagens gravadas com sua voz clamando por sua inocência, pagando-se 1,99 dólar o minuto. Acredite, muitas pessoas ligavam para ouvir essas mensagens e pagavam por esse serviço.
Com o decorrer dos anos, aguardando as apelações que seus advogados faziam, Gacy divorciou-se, fez psicoterapia, tentou suicídio e se tornou alcoólatra.

MORTE

No seu último dia de vida, 10 de maio de 1994, Gacy recebeu a vista de sua família e seus amigos na Penitenciária Stateville em Joliet, Illinois.
A última refeição, escolhida por ele, foi frango frito (Kentucky Fried Chicken), camarão frito, batatas fritas e morangos frescos.

Reportagem sobre o Palhaço Assassino
(para ativar legenda em português, clicar no retângulo ao lado do pequeno relógio
na base do vídeo)

Às 21 h, foi pedido que todos os familiares e amigos se retirassem, mas Gacy poderia ficar até às 23h em companhia de um ministro religioso, se assim fosse sua vontade.
Nesse horário foram iniciados os preparativos finais. Foi oferecido a Gacy um sedativo. Exatamente a 00h01 ele foi retirado de sua cela, amarrado a uma maca e recebeu uma solução salínica intravenosa no braço. Foi dada a ele, então, a chance de pronunciar suas últimas palavras, que foram:
- Kiss my ass! (Beije minha bunda!)

A identidade dos executores sempre é mantida em sigilo, e é um trabalho voluntário. Todas as testemunhas da execução, através de uma janela, observam ser ministrada no condenado uma primeira dose de solução salínica, seguida por outra de sódio tiopental, um anestésico que o faria dormir pela última vez.

Em seguida, o brometo de pancuronium começou a entrar nas veias, para que seu aparelho respiratório fosse paralisado. Na seqüência, o cloreto de potássio pararia seu coração. O processo todo não deveria demorar mais que cinco minutos...

John Wayne Gacy levou dezoito minutos para morrer. O tubo por onde o soro estava sendo ministrado entupiu. Gacy bufou. Tão logo isso aconteceu, os atendentes da câmara da morte fecharam as cortinas em volta dele e começaram a lutar para desentupir o tubo. Trocaram por outro. Os olhos do prisioneiro se abriram pela última vez.

Finalmente, as duas últimas drogas encontraram caminho livre para dentro do corpo de Gacy. O monstro estava morto...
Se pudesse ter assistido ao que se passava do lado de fora, o palhaço Pogo teria adorado o circo que se instalou ali. Todas as redes de radio e televisão estavam no local, alem de espectadores em geral. Quanto mais o relógio se aproximava da meia-noite, mais o povo ali presente cantava, brindava e se comportava como se estivesse num show de rock. Pouquíssimas pessoas estavam ali para protestar contra a pena de morte.

Adolescentes vestiam camisetas com inscrições criativas, como “meus pais vieram à execução de Gacy e tudo o que consegui foi esta estúpida camiseta.”, ou “Nenhuma lágrima para o palhaço.”

Minutos depois da meia-noite, todos começaram a brindar e cantar mais alto. Garotas subiam nos ombros dos namorados, segurando lanternas.
Nada disso diminuiu a tristeza dos pais que perderam os filhos para sempre... Morria, nessa data, o misterioso assassino que se escondia atrás da máscara de um palhaço. Morria ali um louco com uma mortal necessidade de jovens vítimas, e com ele o segredo da identidade de várias delas.

Em 1998, vinte anos após os crimes de Gacy, novas buscas foram feitas num local perto de onde a mãe dele morava. Vários investigadores acreditam que Gacy matou muito mais gente do que o número de corpos encontrados, porém nenhum corpo além dos 33 anteriores jamais apareceu.


Fonte: Serial Killers: louco ou cruel?, de Ilana Casoy
           Murderpedia.org

domingo, 22 de setembro de 2013

ANDREI CHIKATILO, o Monstro de Rostov




(Ao final, link para os filmes Cidadão X e Evilenko, baseados na história)

Andrei Romanovich Chikatilo nasceu em 16 de outubro de 1936, na cidade de Iablotschnaia, na Ucrânia. De acordo com Chikatilo, sua família sofreu muito durante a coletivização forçada por Joseph Stálin na década de 1930. Além de conhecer pobreza e fome, ele perdeu um irmão mais velho supostamente assassinado e canibalizado pelos vizinhos durante uma época de fome que dizimou milhares de vidas russas. Sendo ou não verdadeira a história, a mãe do jovem Andrei semeou isso nele com frequentes repetições e seus feitos posteriores replicariam o ato.

Chikatilo, que de tão míope era quase cego, também sofria de um distúrbio sexual desde o início da adolescência, que o deixava periodicamente impotente. Ele acreditava que havia sido cegado e castrado ao nascer, crença que abasteceu suas mórbidas fantasias de vingança violenta.

Foi um estudante ávido por livros, mas seu jeito estranho e quase afeminado sempre provocava risadas constantes dos colegas. Chikatilo era alvo de ridicularizações intermináveis. Tinha pouquíssimos amigos e só admitiu que precisava de óculos quase aos 20 anos. Sua enurese noturna também era motivo de grande vergonha e segredo.
Na adolescência, parou de ser provocado. Tinha se tornado um rapaz muito alto e forte, impondo algum respeito por causa do tamanho que adquirira. Aos 16 anos já era o editor do jornal escolar e do escritório de informação política, cargos que lhe davam algum prestígio. Ainda assim, sua vida social era inexistente, em especial no que dizia respeito a mulheres.

Casou-se em 1963 e teve dois filhos: Lyudmilla e Yuri. Em 1973 sua mãe faleceu, e nesse ano Chikatilo começou a molestar meninas.

Sua timidez profunda dificultou muito sua vida como professor, no controle dos alunos. Eles sempre o ridicularizavam e o humilhavam. Seus colegas de profissão também riam dele, por achá-lo muito estranho.

Desde o início da carreira, os alunos o interrompiam toda hora com zombarias, apelidando-o de ganso por causa de seu longo pescoço e postura inadequada.

Enquanto muitos dos assassinos em série matam pela primeira vez em sua adolescência ou início dos 20 anos, Chikatilo teve um início lento. Com grau universitário, uma esposa e dois filhos, ele apresentava aparência de um homem de família calma. Empregado como supervisor do dormitório escolar, Chikatilo foi despedido sob a alegação de ter molestado os estudantes do sexo masculino. Um novo emprego, como auxiliar de suprimentos em uma fábrica na área industrial pero de Shakhty, requeria viagens frequentes de ônibus ou trem, e Chikatilo reverteu a circunstância para favorecê-lo, buscando suas vítimas em terminais de ônibus e estações de trem.



OS CRIMES

O autodescrito “besta louca” e “erro da natureza” cometeu seu primeiro assassinato em 22 de dezembro de 1978, na cidade de Shakhty. O corpo de sua vítima, uma menina de 9 anos, chamada Lena Zakotnova, que Chikatilo estrangulou, estuprou e apunhalou repetidamente, foi retirada do rio Grushevka dias depois. Chikatilo foi um dos muitos suspeitos interrogados no caso, mas a polícia logo se concentrou em Alexander Kravchenko, 25 anos, um ex-sentenciado que tinha cumprido pena por assassinato e estupro. Em custódia, Kravchenko apanhou da polícia até ele confessar, no que foi sentenciado a morte e morto por esquadrão de fuzilamento. A “solução” parecia boa no papel, mas naturalmente falhou em impedir o real assassino de atacar novamente.

Sua segunda vítima foi a menina Larisa Tkachenko, 17 anos. Ela cabulava aula na cidade de Rostov quando foi seduzida por Chikatilo a ir ao bosque fazer sexo com ele. Cometeu um erro fatal: começou a rir quando a performance dele falhou! Foi estrangulada de imediato. Chikatilo, enfurecido e humilhado, roeu a garganta, os braços e os seios da adolescente. Sorveu um de seus mamilos depois de cortá-lo com os dentes e empalou-a. Com tranqüilidade, pegou sua maleta e seguiu viagem.

Uma das vítimas de Chikatilo

Em 12 de junho de 1982 persuadiu Lyuba Biryuk a acompanhá-lo. Esta menina de apenas 12 anos foi esfaqueada pelo menos 40 vezes no silêncio de uma floresta. Seus ferimentos incluíam a mutilação dos olhos. Os restos mortais de Lyuba só foram encontrados um ano depois de seu desaparecimento.

Durante o ano de 1983, Chikatilo fez mais três vítimas, incluindo-se aí sua primeira vítima masculina, Oleg Podzhidaev, de 9 anos. O corpo do menino nunca foi encontrado, mas segundo os depoimentos posteriores do assassino, Oleg foi castrado, e seus genitais, levados por ele, outra assinatura freqüente de seus crimes.

Foto de vítima de Chikatilo

A violência dentro da mente de Chikatilo aumentava em progressão geométrica, incontrolável. Consta que, no ano de 1984, este assassino matou 15 pessoas.
Chikatilo foi detido para interrogatório naquele ano e liberado por falta de evidencias após os oficiais comunistas intervirem a seu favor, lamentando a “perseguição” de um membro leal do partido.

A polícia estava alarmada com o número de assassinatos de crianças, e obteve o reforço do major Mikhail Fetisov e seu time de investigação. Finalmente alguém chegava à conclusão de que eram obra de um único louco.

INVESTIGAÇÃO

Como a maioria dos crimes ocorrera na área de Rostov, em particular na cidade de Shakhty, Fetisov montou ali um esquadrão como base para as investigações. Para liderar o esquadrão, foi escolhido Victor Bukarov, experiente analista forense, considerado por muitos o mais talentoso investigador de cenas de crime do departamento de polícia. O caso foi oficialmente denominado “Lesopolosa”(Cinturão retangular plantado pelo homem, para proteger os campos do vento e evitar erosão) ou “Os assassinatos do estripador da floresta”.

Foto de vítima de Chikatilo

A primeira ação do esquadrão foi pesquisar arquivos de hospitais psiquiátricos e similares, porque acreditava-se que o criminoso só poderia ser um doente mental. Os arquivos da polícia também foram vasculhados minuciosamente, mas nada parecido com aqueles crimes foi encontrado.

Apesar da falta de pistas, todas as pessoas que foram suspeitas em crimes similares tiveram uma amostra de sangue recolhida para exame de tipo sanguíneo, pois o sêmen extraído dos restos mortais de algumas vítimas estabelecia o tipo de sangue do agressor como AB. Andrei Chikatilo estava incluído nessa lista.

Foto de vítima de Chikatilo

As substâncias A,B e H do grupo ABO são secretadas pela saliva, sêmen, leite, bile, líquido pleural, etc.

Os trabalhos policiais prosseguiram, agora investigando cada motorista que trabalhava naquela área industrial da cidade. Nada foi descoberto. A polícia estava desesperada porque o número de mortes era cada vez maior. Bukarov então pediu para vários psicólogos, psiquiatras e patologistas sexuais do Instituto Médico de Rostov que preparassem um perfil do assassino. Muitos deles se negaram a ajudar, alegando terem poucas informações, mas o Dr. Aleksandr Bukhanovsky concordou e forneceu um perfil aos investigadores:

O assassino sofria de distúrbios sexuais.
Sua altura era de, aproximadamente, 1,67 metros.
Sua idade estava entre 25 e 50 anos.
Calçava número 41 ou acima deste número.
Possuía tipo sanguíneo comum.
Provavelmente sofrera alguma forma de abuso sexual e brutalizava suas vítimas para “compensar” o fato.
Não era retardado ou esquizofrênico.
Sofria de dores de cabeça.
Agia sozinho.
Sádico, sentia-se deprimido até matar.
Planejava seus crimes.

Sem muitas informações que o ajudassem, Bukarov resolveu tentar a sorte estreitando a vigilância nas estações de ônibus, trem e bonde, conseguindo para tanto, pessoal extra que o ajudasse nessa tarefa.

Foto de vítima de Chikatilo

O lugar que recebeu maior atenção da polícia foi a Estação de Ônibus de Rostov, que era a última localização conhecida das duas vítimas recém-encontradas. A tarefa de vigiar a estação ficou sob a responsabilidade de Alecsandr Zanosovsky, que devia estar atento a qualquer pessoa que agisse de modo suspeito em relação a mulheres e crianças. Ao final do primeiro dia de vigilância, chamou a atenção dele um homem de meia idade, que usava óculos de grau. Aquele senhor olhava com insistência para jovens garotas.

O policial se aproximou e pediu para ver os documentos do homem, que parecia muito nervoso por ter sido abordado. Alegou que estava em viagem de negócios, finalmente indo para casa. Zanosovsky examinou todos os documentos do homem, que incluíam um cartão vermelho que o identificava como empregado autônomo de uma das divisões da KGB(Serviço secreto russo). Constatando que tudo estava em ordem, devolveu os documentos e desculpou-se pelo incômodo.

Foto de vítima de Chikatilo

Dias depois, Zanosovsky e um parceiro estavam novamente vigiando a mesma estação quando Andrei Chikatilo foi visto outra vez. O policial ainda se lembrava da estranha maneira de agir daquele senhor. Resolveram segui-lo por algum tempo. A espreita durou várias horas, pois Chikatilo embarcou em vários ônibus e viajou por todo o distrito antes de retornar a estação de Rostov. Durante o percurso, o homem se aproximara de várias mulheres com idades diferentes, sempre tentando entabular uma conversa. Mesmo quando rejeitado, não desistia. Parecia que seu objetivo era conversar com todas as mulheres que cruzassem seu caminho.

Pareceu obter sucesso com uma delas, com quem iniciou caricias, mas depois de algum tempo ela se aborreceu e se levantou, gritando com o homem. Zanosovsky e seu parceiro, sem perder tempo, interpelaram o sujeito e pediram seus documentos.
Andrei Chikatilo começou a suar em abundância. Relutante, abriu a valise para que os policiais examinassem seu conteúdo: uma corda, um pote de vaselina e uma afiadíssima faca. Foi levado sob custódia sob a acusação de assédio sexual, crime que dava direito a polícia de detê-lo para averiguações por quinze dias.

Durante esse tempo, foi descoberto um registro criminal anterior de Chikatilo, que havia roubado um linóleo e bateria de um carro de propriedade de uma fábrica do Estado. Não era muito, mas esse crime dilatava o prazo de detenção por vários meses, dando aos investigadores a chance de examinar seu passado com ais cuidado.

As evidências indicavam que ele poderia ser o assassino tão procurado. Resolveram então tirar uma amostra de seu sangue, para identificar seu tipo sanguíneo: era tipo A. Se, a essa altura dos acontecimentos, a polícia tivesse colido amostras de saliva e sêmen, teria descoberto que seu tipo sanguíneo na verdade era AB. Mas os antígenos B em seu sangue não estavam presentes de forma suficiente para serem detectados.

A única evidência real que restou para a polícia, e que poderia ligá-lo aos crimes, era o conteúdo de sua pasta. Chikatilo então foi condenado apenas por roubo.

LIVRE NOVAMENTE

Chikatilo cumpriu três meses de uma pena de um ano e foi solto outra vez, ainda em 1984. Os crimes então continuaram.

Em dezembro, Chikatilo já estava empregado em uma fábrica de locomotivas perto de Novocherkassk. Como antes, seu serviço incluía muitas viagens, todas legítimas, a trabalho.

Permaneceu sem matar até agosto de 1985, quando se aproximou de uma jovem de 18 anos com problemas mentais. Ela concordou em segui-lo até uma mata perto da linha do trem e algum tempo depois estava morta, com marcas de 387 facadas pelo corpo.

Chikatilo em sua jaula no julgamento

Ainda em agosto, Chikatilo encontrou uma jovem na estação de Ônibus de Shakhty, que disse a ele não ter onde dormir. Oferecendo a ela seu barraco em troca de favores sexuais, guiou-a pelo caminho da floresta. Mais uma vez ele falhou sexualmente. De novo, uma mulher riu de seu pobre desempenho. Foi morta de imediato, sem dó nem piedade.

Foi pedido a Bukhanovsky um novo perfil criminal. O profissional agora estava provido de todas as informações sobre os crimes. Num trabalho longo e mais preciso, descreveu o assassino em série como alguém que tinha controle de suas ações, narcisista e arrogante. Como muitos criminosos deste tipo, achava-se mais talentoso do que realmente era e desmerecido por seus pares. Segundo o psiquiatra, ele não era criativo, mas seguia um plano prévio de ação. Era heterossexual, sádico e necrófilo.

Primeiro atingia a cabeça das vítimas, surpreendendo-as e evitando qualquer reação, iniciando então o processo de atingi-las com inúmeras facadas, que simbolicamente significavam penetrações sexuais. Masturbava-se. Cegava suas vítimas por várias razões, entre elas para impedir que sua imagem permanecesse em seus olhos, crença popular comum. Emasculava os meninos para feminizá-los, e quando fazia isso com meninas, manifestava seu poder sobre elas. Provavelmente guardava os órgãos sexuais extirpados ou os ingeria.

Uma hipótese interessante foi levantada: o assassino tinha uma relação estranha com as mudanças climáticas, pois antes da maioria dos assassinatos as marcações do barômetro haviam caído. A maioria dos crimes aconteceu entre terça e quinta-feira, dias de trabalho. A idade do criminoso devia estar entre os 45 e 50 anos, e ele parava de matar quando achava que corria o risco de ser descoberto.

Para entender melhor a mente desse assassino, Bukarov, o analista forense, entrevistou o famoso Anatoly Slivko, molestador e assassino de sete meninos. 
Achavam que procuravam alguém parecido com ele. Esse condenado foi executado logo após a conversa.

Em 1986, apesar de o esquadrão de investigação ainda estar trabalhando, extra-oficialmente o caso foi passado para as mãos de Issa Kostoyev, diretor do Departamento de Crimes Violentos de Moscou. Ele reorganizou os trabalhos em três times: Shakhty, Rostov e Novoshakhtinsk. Decidiu que qualquer pessoa que tivesse sido condenada por qualquer crime com motivo sexual fosse checada novamente. Profundas investigações começaram a ser feitas, e pode ser por esse motivo que Chikatilo, assustado, parou de matar por algum tempo.

Em 1987, Chikatilo assassinou um menino de 13 anos que concordou em segui-lo atrás de alguma recompensa, durante uma viagem para a cidade de Revda, nos Urais. Seu corpo foi encontrado nas proximidades da estação de trem local. Em julho do mesmo ano, a viagem a Zaporozhye, Ucrânia, resultou na morte de outro menino que o seguiu floresta adentro. O ataque a este garoto foi tão brutal, que a faca de Chikatilo quebrou na cena do crime, sendo encontrada pela polícia.

Em 1988, tornou a matar no mês de abril. Desta vez, sua vítima foi uma mulher de 30 anos, na cidade de Krasny-Sulin. Na cena do crime foi encontrada uma pegada do assassino, tamanho 45.

No ano de 1989, mais oito vítimas foram mortas por Chikatilo. Uma delas no apartamento vazio de sua filha, agora divorciada. Ele embebedou Tatyana Ryshova e a seduziu. Depois de esfaqueá-la e estuprá-la, se deu conta de que não poderia deixar o corpo em local tão óbvio. Utilizando-se de uma faca de cozinha, decapitou-a, amputou as pernas e embrulhou tudo em panos. Amarrou a trouxa no trenó de um vizinho e levou os restos mortais para um local de despejo seguro.

Outro crime foi cometido quando Chikatilo estava indo ao aniversário do pai. Ao ver Yelena Varga, 9 anos, não pode se conter: enganou-a para que o seguisse até a floresta e esfaqueou-a. Deixou ali o corpo depois de arrancar o útero e parte da face da menina.

A última vítima de 1989 foi um menino de 10 anos, que ele conheceu em uma locadora de vídeo. Foi morto a facadas e enterrado no cemitério de Rostov pelo próprio assassino.
No ano de 1990, a polícia ainda não havia resolvido os crimes, e todos sabiam quanto estava custando o fracasso.

Entre janeiro e novembro do mesmo ano, Chikatilo matou mais nove pessoas. A preferência dele agora se definia por meninos. Uma das vítimas foi Vadim Tishchenko, cujo corpo foi encontrado perto da Estação de Trem de Leskhoz, em Rostov.
Mais uma vez a polícia começou a montar um enorme esquema de vigilância permanente em todas as estações de trem e ônibus das redondezas, com policiais usando até óculos especiais para visão noturna.

Todos os passageiros que embarcavam diariamente eram observados. Foram utilizadas também iscas humanas, com policiais femininas bonitas vestindo roupas à paisana bastante provocativas. Era o desespero instalado na polícia, que pretendia capturar, por fim, aquele terrível criminoso que já agia havia mais de doze anos.

Outro esquadrão foi escalado paras identificar quem vendera a passagem de ônibus que fora encontrada ao lado do corpo do menino. Enfim, depois de um trabalho exaustivo de entrevistas, um atendente da estação de Shakhty reconheceu a foto do garoto. Contou à polícia que ele havia comprado sua passagem acompanhado de um senhor alto, bem vestido e grisalho, que usava óculos de muitos graus. O atendente também informou que sua filha já havia visto esse mesmo senhor um ano antes, quando ele estava em um trem conversando com um outro menino e tentando convencê-lo a descer do trem com ele. O garoto se recusou e fugiu. A polícia foi imediatamente conversar com a tal filha, que deu uma descrição detalhada do sujeito.

Afirmou que ele era freqüentador constante dos trens, sempre tentando descer acompanhado de algum jovem.
Antes que a polícia pudesse chegar a Andrei Chikatilo, mais uma m,oca foi vítima dele: Svetlana Korostik, 20 anos. Foi surrada, esfaqueada e mutilada. Desta vez o assassino arrancou a língua dela e ambos os mamilos, antes de cobrir o corpo da jovem com galhos e folhas.

A polícia começou então a ler todos os relatórios anteriores sobre fatos estranhos que seus investigadores poderiam ter observado nas estações. Ao ler o relatório do sargento Ribakov, o chefe Kostoyev surpreendeu-se. Como aquele relato passara despercebido?

O sargento Igor Ribakov contava que, num certo dia, trabalhando na estação de trem, reparou em um homem andando pela plataforma, suando profusamente. Ao chegar perto para examinar melhor, notou que o senhor em questão tinha mancha de sangue na face e no lóbulo da orelha, além de ter um curativo em um dos dedos da mão. 

Pediu os documentos do tal homem: Andrei Chikatilo, engenheiro sênior de uma fábrica de locomotivas em Rostov. O policial ia fazer mais perguntas quando um trem chegou, e Chikatilo insistiu que tinha de seguir viagem naquele momento. Não havendo nenhuma razão real para segurá-lo ali, Ribakov o deixou seguir seu caminho. Apreensivo, o chefe Kostoyev resolveu checar os registros de viagem desse tal Chikatilo.

Nesse meio tempo, outro corpo foi encontrado na cidade de Ilovaisk, o da menina Alyosha Voronka. Kostoyev logo descobriu que Chikatilo estivera nessa cidade a negócios, na mesma data. O esquadrão principal decidiu montar um esquema de vigilância permanente sobre aquele suspeito, para tentar pegá-lo em flagrante.

PRESO NOVAMENTE

Em 10 de novembro de 1990, Chikatilo resolveu procurar um serviço de raios X para descobrir porque seu dedo, mordido por uma das vítimas, ainda doía tanto. Constatou-se que o dedo estava realmente quebrado. Recebeu tratamento e foi dispensado. Ao chegar em casa, resolveu sair outra vez para comprar cerveja. No caminho parou para conversar com um garoto, mas afastou-se quando a mãe dele apareceu. Logo adiante encontrou outro menino e se engajou numa outra conversa, até que a mãe dele também o chamou. Foi então que três homens, vestindo jaqueta de couro, aproximaram-se dele e se identificaram como policiais. Chikatilo foi algemado e preso para averiguações, levado para o escritório de Mikhail Fetisov, principal chefe de todos os esquadrões.

Ao verificar a pasta que carregava, constataram que o conteúdo era o mesmo de seis anos antes: uma corda, vaselina e uma faca afiada.
Encontrar mais evidências não foi difícil. Uma busca em seu apartamento revelou 23 outras facas diferentes, um machado e um par de sapatos que combinava com a pegada encontrada ao lado do corpo de uma das vítimas. O difícil para a polícia estava sendo acreditar que aquele gentil e educado senhor de fala mansa fosse o terrível monstro procurado fazia tanto tempo pela polícia russa.

CONFISSÕES

Não foi tarefa simples fazer o assassino confessar. Kostoyev jogou a velha isca da doença mental, dizendo que se assim fosse diagnosticado os crimes não seriam sua culpa e ele receberia tratamento. Confrontou o suspeito com as provas circunstanciais que tinha, mas nada fazia Chikatilo falar. Sob pressão do tempo hábil que tinha para manter o suspeito preso para averiguações, Kostoyev pediu a ajuda de Bukhanosvsky, que, se utilizando do perfil que havia feito, conquistou o assassino, demonstrando que era capaz de entendê-lo como ninguém.

Apesar de a polícia só ter notícia, até então, de 36 crimes conectados como de mesma autoria, Chikatilo confessou em detalhes 53 crimes, sendo 21 meninos, 14 meninas e 18 jovens mulheres. Sua memória era brilhante. Ele se lembrava de datas, locais e até da roupa que suas vítimas vestiam no momento do crime. Também descreveu o método especial que desenvolvera para matar com facas, de modo que o sangue não espirasse nele mesmo.

O acusado reconstituiu seus crimes utilizando-se de um manequim, explicando todos os seus métodos de atacar, amarrar, esfaquear, abusar, mutilar e matar. Suas vítimas eram tão severamente mutiladas que, quando as autoridades do Uzbequistão encontraram o corpo de uma jovem no trigal, acharam que ela tivesse caído embaixo de uma máquina agrícola. Em outros três casos, a polícia achou que tivesse encontrado corpos de meninas, mas depois de examinados, constatou-se que se tratava de meninos.

JULGAMENTO E EXECUÇÃO

Em 1992, Andrei Chikatilo foi enviado ao Instituto Serbsky, em Moscou, para uma avaliação neurológica e psiquiátrica. Ali constataram que o criminoso tinha danos cerebrais importantes que danificavam seu controle da bexiga e da ejaculação, mas segundo o laudo, foi considerado mentalmente são e apto para ser julgado.

O julgamento do também chamado Açougueiro de Rostov teve início em 14 de abril de 1992. Estavam presentes os parentes das vítimas e a imprensa.
Chikatilo apresentou a si mesmo como uma alma atormentada e enlouquecida por sua impotência sexual. Descreveu em detalhes seus sangrentos crimes e seu comportamento psicótico, causando diversos desmaios na platéia. Durante todo o tempo, foi mantido em uma jaula de metal para sua própria poteção.

Ao final, o juiz declarou, com base no depoimento dos psiquiatras, que aquele assassino estava em seu perfeito juízo mental quando cometera os crimes.
Em 15 de outubro de 1992, Andrei Romanovich Chikatilo foi declarado culpado por 52 assassinatos e condenado à morte. Escapou de um de seus crimes por falta de provas.

Quando ouviu sua sentença declarou:
- Quero que meu cérebro seja desmontado pedaço por pedaço e examinado, de maneira que não haja outros como eu.

A apelação por indulgência, foi rejeitada pelo Presidente Boris Yeltsin em 15 de fevereiro de 1994, e Chikatilo foi executado no mesmo dia com um tiro de pistola na nuca.



Filme Evilenko (2004)


Filme Cidadão X (1995)

Fonte: Serial Killers, louco ou cruel?, Ilana Casoy
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