sábado, 16 de agosto de 2014

O CARNICEIRO LOUCO DE KINGSBURY ou O ASSASSINO DO TRONCO DE CLEVELAND


Inicialmente, recomendo a visita ao link a seguir, para o blog do Aprendiz Verde, que traz, além de maiores detalhes, fotos das vítimas encontradas, investigação realizada na época, entre outros encontrados em arquivo da polícia de Cleveland... vale a pena!



Cleveland é a segunda maior cidade de Ohio e faz parte do Condado de Cuyahoga... Kingsbury Run é a área pobre que corta todo o lado leste de Cleveland. Trata-se de uma pequena cidade de nômades dentro da grande Cleveland, invadida pela onda de depressão que assolou o país na década de 1930 – decorrente da Crise de 1929 – e, naquela época, o cenário não era nada agradável.

Na manhã de 23 de setembro de 1935, dois adolescentes caminhavam rindo bastante por Kingsbury Run quando tropeçaram nas proximidades de um barranco íngreme conhecido como Jackass Hill... um deles avistou algo para fora do mato e, ao se aproximar caiu de joelhos com o que vira, enquanto seu amigo deu um grito de desespero: encontraram um corpo sem cabeça.

Ao chegarem na cena do crime, detetives encontraram DUAS cabeças, limpas e com o sangue drenado, conforme o relatório a seguir:
Os corpos de dois homens brancos, ambos decapitados, deitados no mato; ambos (…) estavam nus, exceto um deles que tinha meias. Após uma extensa busca, as cabeças dos dois homens foram encontradas enterradas em locais separados, uma a cerca de 20m de um dos corpos e a outra cabeça estava enterrada a 75m de distância do outro corpo. Ambos os homens tiveram seus pênis removidos, que foram achados perto de uma das cabeças. Nós também encontramos um velho casaco azul, um boné claro e mancha de sangue em um terno. Perto havia um balde de metal contendo uma pequena quantidade de óleo e uma tocha.
Era evidente que óleo, ácido ou algum produto químico foi derramado sobre um dos corpos, já que um deles estava com o tecido queimado; é também evidente que ambos os corpos haviam permanecido lá vários dias até começarem a se decompor”.

A idade estimadas de uma das vítimas estava entre 40 e 45 anos, tinham 74kg e 1,70m, cabelos castanho-escuros. Segundo o legista, a pele e os músculos, no corte exato da decapitação, estavam retraídos, o que significava que a vítima foi decapitada VIVA com um instrumento bastante afiado. Pela decomposição avançada, não foi possível recolher impressões digitais.

A outra vítima era um homem, com aproximadamente 20 anos, olhos azuis, cabelos castanhos e pele clara, 1,55m de altura e cerca de 67kg. Nu, exceto por suas meias de algodão pretas, segundo o legista, comera uma refeição de legumes pouco antes de morrer. Sua causa mortis também fora a decapitação, com queimaduras feitas por uma corda em cada um dos pulsos, castrado e decapitado ainda consciente, com as mãos amarradas para trás. Mais tarde, foi identificado como Edward Andrew Andrassy, 28 anos, identificado por suas impressões digitais. Já tinha sido preso várias vezes por bebedeiras, confusões e porte ilegal de armas; conhecido por frequentar Kingsbury e não trabalhar.

Edward deixou sua casa no dia 19 de setembro de 1935, sem dizer para a família onde ia... segundo o legista, foi morto no dia 20, uma sexta-feira à noite, sendo seu corpo encontrado na tarde da segunda-feira.

Às 11h25m do dia 26 de janeiro de 1936, a Delegacia de Homicídios de Cleveland recebeu um telefonema onde “uma mulher de cor (termo usado para designar pessoas negras) com nome desconhecido informou a Charles Paige que havia um corpo de uma pessoa assassinada em um prédio na East 21 Place. Charles Paige afirmou que ele encontrou várias partes de um corpo humano”.

Partes de um corpo foram encontrados em uma cesta e outras foram embrulhadas em sacos de aniagem, com um terno de algodão envolto em jornais, atrás de uma fábrica da Companhia Hart: tratava-se da parte inferior do tronco de uma mulher com as extremidades das coxas e, pelas impressões digitais que foram possíveis recolher, descobriram a identidade da vítima: Florence Saudy Polillo, 42 anos.

De acordo com o legista, Florence foi morta entre dois a quatro dias, seu desmembramento foi feito comum instrumento cortante, bastante afiado e, como nas primeiras vítimas, as bordas da pele foram limpas e cortadas por alguém que tinha habilidade de especialista para cortar a carne.

Florence era uma mulher irlandesa que se relacionava com a chamada “parte suja” da sociedade: donos de bordéis, prostitutas, contrabandistas, drogados e alcoólatras. Querida por todos estes, nenhum tinha ideia do que poderia ter acontecido.

No dia 7 de fevereiro de 1936, o resto do corpo de Flo, exceto a cabeça, foi encontrado atrás de uma casa vazia, espalhado contra uma cerca. Preservado pelo frio, os legistas puderam afirmar que, assim como os outros, Flo foi decapitada VIVA...

No dia 5 de junho de 1936, dois garotos foram pescar e pegaram um atalho por Kingsbury Run... avistaram um pacote e um par de calças enroladas debaixo de um arbusto. Ao cutucarem o pacote, uma cabeça saiu rolando e, aterrorizados, chamaram a polícia. Na manhã seguinte, encontraram um cadáver nu, sem cabeça, quase em frente a um posto policial de Nickel Plate.

A vítima era um homem alto, esguio, com aproximadamente 20 anos e cerca de seis tatuagens no corpo: um cupido sobreposto a uma âncora, uma pomba com a palavras “Helen-Paul”, uma borboleta, um personagem de desenho animado, “Jiggs”; uma seta atravessando um coração e mastro de bandeira e as iniciais W.C.G. Uma pilha de roupas manchadas de sangue foi achada perto do corpo; a cueca tinha uma marca de lavanderia indicando as iniciais do proprietário, “J.D.”. Conhecido como o “Homem Tatuado”.

Um ano antes desses corpos aparecerem, a metade inferior de um tronco de uma mulher surgiu no Lago Erie, próximo ao Parque de Diversões de Euclid, com as pernas amputadas na altura dos joelhos. Na época, a perícia concluiu que o corpo estava na água a cerca de 3 ou 4 meses; a coloração da pele sugeria que o corpo fora queimado ou tratado com um produto químico. Duas semanas antes desse “achado”, a parte superior do tronco fora encontrado, mas quem o achou pensou que não fosse humano... o resto nunca foi encontrado. Ficou conhecida como “A Dama do Lago”.

No dia 22 de julho de 1936, uma nova chamada: um cadáver decapitado de um homem branco foi encontrado, próximo a área de Big Creek, no sudoeste de Cleveland. O relatório de um detetive narrava o seguinte: “(...) foi deitado de bruços; a cabeça estava parcialmente embrulhada em sua roupa cerca de 4,5m ao norte do corpo. Parecia que o corpo tinha sido deitado nesse ponto há pelo menos 2 meses e estava em avançado estado de decomposição. O corpo estava em um avançado estado de decomposição, com a pele e acarne desnudadas em grandes áreas. Roedores, larvas e o próprio processo de decomposição removeram as porções das vísceras internas. A cabeça foi separada do corpo na junção da segunda e terceira vértebras cervicais, as extremidades dos ossos não mostram nenhuma evidência de fratura”.

Esta vítima era um homem, baixo, cerca de 40 anos, morto entre 2 ou 3 meses, o que indicava que sua morte ocorrera ANTES do “Homem Tatuado”. Parecia estar se especializando na decapitação das pessoas.

10 de setembro de 1936, mais um corpo foi encontrado: duas metades de um tronco humano boiava em uma poça de água oleosa e negra. Pequenos pedaços de carne foram encontrados em uma borda do riacho, bem como a coxa direita. Em uma mata próxima, foi encontrado um chapéu de feltro cinza, da loja Laudy Smart Shop, de Ohio, com manchas que pareciam ser sangue na parte superior. Uma camisa azul foi encontrada embrulhada em um jornal onde o corpo foi jogado, coberta de sangue.

Dia 23 de fevereiro de 1937, mais um corpo, quer dizer, PARTES de um corpo, foram encontrados na praia na Rua 156, próximo onde foram encontradas partes do corpo da “Dama do Lago”, há três anos. A vítima também foi decapitada, braços amputados e tronco dividido. A mulher foi morta entre 2 a 4 dias atrás e não passou mais do que 3 dias na água; tinha entre 25 e 35 anos, 50 kg, pele clara... nunca foi identificada.

Suas pernas foram removidas com golpes limpos de um instrumento afiado, bem como os braços, porém, a mutilação do tronco não. Neste caso, a decapitação parece ter ocorrido post-mortem. O assassino inseriu o bolso de uma calça no reto da vítima.

Em 6 de junho de 1937, um jovem descobriu parte do esqueleto de uma mulher que parecia estar morta a cerca de 1 ano, deitado sobre um saco de aniagem, junto com papel de jornal do ano de 1936, sob a Ponte Lorain-Carnegie. Era uma mulher com cerca de 1,5m de altura, ossos pequenos e delicados. A polícia recebeu uma carta que identificava a vítima como Rose Wallace, uma prostituta desaparecida em agosto de 1836.

Seis de julho de 1937: nova vítima, um homem, aliás, parte superior do seu tronco e suas duas coxas foram encontradas flutuando no rio Cuyahoga... na semana seguinte, as demais partes surgiram, exceto a cabeça. Também nunca identificado, tinha 1,72m, 67 kg, unhas limpas e cortadas, cerca de 42 anos, provavelmente morto há 2 dias. A decapitação foi a causa da morte, mas dessa vez o assassino retirou todos os órgãos abdominais, inclusive coração...

A esta altura, já noticiavam que o assassino poderia ser um médico e, pelo perfil traçado, um nome se encaixava perfeitamente: Dr. Frank Sweeney.

Cresceu na área de Kingsbury Run, onde teve um consultório. Com sérios problemas com álcool, sua mulher pediu a separação e levou os filhos, além de ter perdido sua residência cirúrgica no Hospital St. Alexis, próximo a Kingsbury. Havia rumores de que era bissexual e possuía um temperamento violento quando bebia. Foi descartado como suspeito por atender fora da cidade, em um hospital de veteranos em Sandusky, Ohio.

Em março de 1938, em Sandusky, um cachorro achou a perna mutilada de um homem... um especialista forense lembrou das suspeitas quanto ao Dr. Sweeney e começou a investigar. Descobriu que este médico voluntariamente se internou várias vezes em um hospital para tratar o alcoolismo, internações que intercalavam perfeitamente com os assassinatos do “Açougueiro Louco de Cleveland”.

Descobriu ainda que o hospital de veteranos onde Sweeney trabalhava compartilhava instalações com a Penitenciária de Honor Farm, de Ohio, e que o médico tinha uma estreita relação com um presidiário chamado Alex Archaki, que tinha certeza de que o “Açougueiro” era o Dr. Sweeney pela forma como ele o abordou em um bar 2 anos antes. Perguntava se ele tinha algum parente na cidade, se era casado...

Toda vez que o Dr. Sweeney desaparecia do hospital de veteranos, um corpo decapitado aparecia... como era primo de um congressista, as investigações teriam que ser discretas.

Em 08 de abril de 1938, a perna quebrada de uma mulher foi encontrada no rio Cuyahoga... o legista afirmou que a perna tinha sido removida há poucos dias. Um mês depois, encontraram dois sacos de aniagem contendo o corpo nu de uma mulher com o tronco dividido ao meio, coxas e pés na margem do rio... cabeça e braços nunca foram encontrados.

Agosto de 1938... um corpo desmembrado de mulher, envolta em panos, papel pardo e papelão foi encontrado em um depósito no final da Rua East Ninth, por homens que despejavam sucatas no depósito. Desta vez, estavam a cabeça e as mãos... a mulher tinha entre 30 e 40 anos, 1,62m e aproximadamente 55kg. Vísceras decompostas, a pele das costas parecia preservada; foi desmembrada por uma grande faca afiada e, provavelmente, morta antes da vítima anteriormente encontrada.

Outros restos mortais foram encontrados... um homem branco, entre 30 e 40 anos, 1,67 e 1,72m, pesando entre 61kg e 68kg, cabelo longo, grosso e castanho-escuro, também desmembrado por uma faca grande e afiada.

A partir daí, iniciaram um “pente fino” em Kingsbury Run, com prisão de moradores que não entendiam o que estava acontecendo... muitos foram enviados a reformatórios e uma ordem drástica foi dada: incendiaram o local na tentativa de dar um fim à série de decapitações. Essa ação foi muito criticada pela imprensa da época.

Em 23 de agosto de 1938, resolveram interrogar Dr. Sweeney, que apareceu elegantemente vestido e, durante o interrogatório, “brincava” com os investigadores. Fazia piadas e não respondia claramente aos questionamentos. Depois, foi submetido ao polígrafo. Os policiais tinham certeza de se tratar do assassino. Quando confrontado com essa possibilidade, Dr. Sweeney retrucou: “Então prove!”.

Depois disso, a única coisa que se sabe é que Frank se internou por vontade própria no hospital de veteranos dois dias após o interrogatório e vagou por hospitais pelos 30 anos seguintes. Nunca foi um prisioneiro e podia sair voluntariamente por dias e até meses. Enviava uma série de cartões postais estranhos e incompreensíveis para a polícia.

Curiosamente também cessaram os assassinatos com assinatura de “Açougueiro Louco” na mesma época. Com o passar do tempo, o congressista junto com o xerife e um detetive particular arquitetaram um plano para incriminar Frank Dolezal, um alcoólatra conhecido na área, na tentativa de “limpar” o nome de Frank Sweeney, o que teve um desfecho trágico.

Até hoje não há certeza de que realmente o autor dos crimes de Cleveland foi o Dr. Frank Sweeney...


Fonte: Enciclopédia de Serial Killers, de Michael Newton
           O Aprendiz Verde


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