(Ao
final, link para os filmes Cidadão X e Evilenko,
baseados na história)
Andrei
Romanovich Chikatilo nasceu em 16 de outubro de 1936, na cidade de
Iablotschnaia, na Ucrânia. De acordo com Chikatilo, sua família
sofreu muito durante a coletivização forçada por Joseph Stálin na
década de 1930. Além de conhecer pobreza e fome, ele perdeu um
irmão mais velho supostamente assassinado e canibalizado pelos
vizinhos durante uma época de fome que dizimou milhares de vidas
russas. Sendo ou não verdadeira a história, a mãe do jovem Andrei
semeou isso nele com frequentes repetições e seus feitos
posteriores replicariam o ato.
Chikatilo,
que de tão míope era quase cego, também sofria de um distúrbio
sexual desde o início da adolescência, que o deixava periodicamente
impotente. Ele acreditava que havia sido cegado e castrado ao nascer,
crença que abasteceu suas mórbidas fantasias de vingança
violenta.
Foi
um estudante ávido por livros, mas seu jeito estranho e quase
afeminado sempre provocava risadas constantes dos colegas. Chikatilo
era alvo de ridicularizações intermináveis. Tinha pouquíssimos
amigos e só admitiu que precisava de óculos quase aos 20 anos. Sua
enurese noturna também era motivo de grande vergonha e segredo.
Na
adolescência, parou de ser provocado. Tinha se tornado um rapaz
muito alto e forte, impondo algum respeito por causa do tamanho que
adquirira. Aos 16 anos já era o editor do jornal escolar e do
escritório de informação política, cargos que lhe davam algum
prestígio. Ainda assim, sua vida social era inexistente, em especial
no que dizia respeito a mulheres.
Casou-se
em 1963 e teve dois filhos: Lyudmilla e Yuri. Em 1973 sua mãe
faleceu, e nesse ano Chikatilo começou a molestar meninas.
Sua
timidez profunda dificultou muito sua vida como professor, no
controle dos alunos. Eles sempre o ridicularizavam e o humilhavam.
Seus colegas de profissão também riam dele, por achá-lo muito
estranho.
Desde
o início da carreira, os alunos o interrompiam toda hora com
zombarias, apelidando-o de ganso por causa de seu longo pescoço e
postura inadequada.
Enquanto
muitos dos assassinos em série matam pela primeira vez em sua
adolescência ou início dos 20 anos, Chikatilo teve um início
lento. Com grau universitário, uma esposa e dois filhos, ele
apresentava aparência de um homem de família calma. Empregado como
supervisor do dormitório escolar, Chikatilo foi despedido sob a
alegação de ter molestado os estudantes do sexo masculino. Um novo
emprego, como auxiliar de suprimentos em uma fábrica na área
industrial pero de Shakhty, requeria viagens frequentes de ônibus ou
trem, e Chikatilo reverteu a circunstância para favorecê-lo,
buscando suas vítimas em terminais de ônibus e estações de
trem.
OS CRIMES
O
autodescrito “besta louca” e “erro da natureza” cometeu seu
primeiro assassinato em 22 de dezembro de 1978, na cidade de Shakhty.
O corpo de sua vítima, uma menina de 9 anos, chamada Lena Zakotnova,
que Chikatilo estrangulou, estuprou e apunhalou repetidamente, foi
retirada do rio Grushevka dias depois. Chikatilo foi um dos muitos
suspeitos interrogados no caso, mas a polícia logo se concentrou em
Alexander Kravchenko, 25 anos, um ex-sentenciado que tinha cumprido
pena por assassinato e estupro. Em custódia, Kravchenko apanhou da
polícia até ele confessar, no que foi sentenciado a morte e morto
por esquadrão de fuzilamento. A “solução” parecia boa no
papel, mas naturalmente falhou em impedir o real assassino de atacar
novamente.
Sua
segunda vítima foi a menina Larisa Tkachenko, 17 anos. Ela cabulava
aula na cidade de Rostov quando foi seduzida por Chikatilo a ir ao
bosque fazer sexo com ele. Cometeu um erro fatal: começou a rir
quando a performance dele falhou! Foi estrangulada de imediato.
Chikatilo, enfurecido e humilhado, roeu a garganta, os braços e os
seios da adolescente. Sorveu um de seus mamilos depois de cortá-lo
com os dentes e empalou-a. Com tranqüilidade, pegou sua maleta e
seguiu viagem.
Uma das vítimas de Chikatilo
Em
12 de junho de 1982 persuadiu Lyuba Biryuk a acompanhá-lo. Esta
menina de apenas 12 anos foi esfaqueada pelo menos 40 vezes no
silêncio de uma floresta. Seus ferimentos incluíam a mutilação
dos olhos. Os restos mortais de Lyuba só foram encontrados um ano
depois de seu desaparecimento.
Durante
o ano de 1983, Chikatilo fez mais três vítimas, incluindo-se aí
sua primeira vítima masculina, Oleg Podzhidaev, de 9 anos. O corpo
do menino nunca foi encontrado, mas segundo os depoimentos
posteriores do assassino, Oleg foi castrado, e seus genitais, levados
por ele, outra assinatura freqüente de seus crimes.
Foto de vítima de Chikatilo
A
violência dentro da mente de Chikatilo aumentava em progressão
geométrica, incontrolável. Consta que, no ano de 1984, este
assassino matou 15 pessoas.
Chikatilo
foi detido para interrogatório naquele ano e liberado por falta de
evidencias após os oficiais comunistas intervirem a seu favor,
lamentando a “perseguição” de um membro leal do partido.
A
polícia estava alarmada com o número de assassinatos de crianças,
e obteve o reforço do major Mikhail Fetisov e seu time de
investigação. Finalmente alguém chegava à conclusão de que eram
obra de um único louco.
INVESTIGAÇÃO
Como
a maioria dos crimes ocorrera na área de Rostov, em particular na
cidade de Shakhty, Fetisov montou ali um esquadrão como base para as
investigações. Para liderar o esquadrão, foi escolhido Victor
Bukarov, experiente analista forense, considerado por muitos o mais
talentoso investigador de cenas de crime do departamento de polícia.
O caso foi oficialmente denominado “Lesopolosa”(Cinturão
retangular plantado pelo homem, para proteger os campos do vento e
evitar erosão) ou “Os assassinatos do estripador da floresta”.
Foto de vítima de Chikatilo
A
primeira ação do esquadrão foi pesquisar arquivos de hospitais
psiquiátricos e similares, porque acreditava-se que o criminoso só
poderia ser um doente mental. Os arquivos da polícia também foram
vasculhados minuciosamente, mas nada parecido com aqueles crimes foi
encontrado.
Apesar
da falta de pistas, todas as pessoas que foram suspeitas em crimes
similares tiveram uma amostra de sangue recolhida para exame de tipo
sanguíneo, pois o sêmen extraído dos restos mortais de algumas
vítimas estabelecia o tipo de sangue do agressor como AB. Andrei
Chikatilo estava incluído nessa lista.
Foto de vítima de Chikatilo
As
substâncias A,B e H do grupo ABO são secretadas pela saliva, sêmen,
leite, bile, líquido pleural, etc.
Os
trabalhos policiais prosseguiram, agora investigando cada motorista
que trabalhava naquela área industrial da cidade. Nada foi
descoberto. A polícia estava desesperada porque o número de mortes
era cada vez maior. Bukarov então pediu para vários psicólogos,
psiquiatras e patologistas sexuais do Instituto Médico de Rostov que
preparassem um perfil do assassino. Muitos deles se negaram a ajudar,
alegando terem poucas informações, mas o Dr. Aleksandr Bukhanovsky
concordou e forneceu um perfil aos investigadores:
O
assassino sofria de distúrbios sexuais.
Sua
altura era de, aproximadamente, 1,67 metros.
Sua
idade estava entre 25 e 50 anos.
Calçava
número 41 ou acima deste número.
Possuía
tipo sanguíneo comum.
Provavelmente
sofrera alguma forma de abuso sexual e brutalizava suas vítimas para
“compensar” o fato.
Não
era retardado ou esquizofrênico.
Sofria
de dores de cabeça.
Agia
sozinho.
Sádico,
sentia-se deprimido até matar.
Planejava
seus crimes.
Sem
muitas informações que o ajudassem, Bukarov resolveu tentar a sorte
estreitando a vigilância nas estações de ônibus, trem e bonde,
conseguindo para tanto, pessoal extra que o ajudasse nessa tarefa.
Foto de vítima de Chikatilo
O
lugar que recebeu maior atenção da polícia foi a Estação de
Ônibus de Rostov, que era a última localização conhecida das duas
vítimas recém-encontradas. A tarefa de vigiar a estação ficou sob
a responsabilidade de Alecsandr Zanosovsky, que devia estar atento a
qualquer pessoa que agisse de modo suspeito em relação a mulheres e
crianças. Ao final do primeiro dia de vigilância, chamou a atenção
dele um homem de meia idade, que usava óculos de grau. Aquele senhor
olhava com insistência para jovens garotas.
O
policial se aproximou e pediu para ver os documentos do homem, que
parecia muito nervoso por ter sido abordado. Alegou que estava em
viagem de negócios, finalmente indo para casa. Zanosovsky examinou
todos os documentos do homem, que incluíam um cartão vermelho que o
identificava como empregado autônomo de uma das divisões da
KGB(Serviço secreto russo). Constatando que tudo estava em ordem,
devolveu os documentos e desculpou-se pelo incômodo.
Foto de vítima de Chikatilo
Dias
depois, Zanosovsky e um parceiro estavam novamente vigiando a mesma
estação quando Andrei Chikatilo foi visto outra vez. O policial
ainda se lembrava da estranha maneira de agir daquele senhor.
Resolveram segui-lo por algum tempo. A espreita durou várias horas,
pois Chikatilo embarcou em vários ônibus e viajou por todo o
distrito antes de retornar a estação de Rostov. Durante o percurso,
o homem se aproximara de várias mulheres com idades diferentes,
sempre tentando entabular uma conversa. Mesmo quando rejeitado, não
desistia. Parecia que seu objetivo era conversar com todas as
mulheres que cruzassem seu caminho.
Pareceu
obter sucesso com uma delas, com quem iniciou caricias, mas depois de
algum tempo ela se aborreceu e se levantou, gritando com o homem.
Zanosovsky e seu parceiro, sem perder tempo, interpelaram o sujeito e
pediram seus documentos.
Andrei
Chikatilo começou a suar em abundância. Relutante, abriu a valise
para que os policiais examinassem seu conteúdo: uma corda, um pote
de vaselina e uma afiadíssima faca. Foi levado sob custódia sob a
acusação de assédio sexual, crime que dava direito a polícia de
detê-lo para averiguações por quinze dias.
Durante
esse tempo, foi descoberto um registro criminal anterior de
Chikatilo, que havia roubado um linóleo e bateria de um carro de
propriedade de uma fábrica do Estado. Não era muito, mas esse crime
dilatava o prazo de detenção por vários meses, dando aos
investigadores a chance de examinar seu passado com ais cuidado.
As
evidências indicavam que ele poderia ser o assassino tão procurado.
Resolveram então tirar uma amostra de seu sangue, para identificar
seu tipo sanguíneo: era tipo A. Se, a essa altura dos
acontecimentos, a polícia tivesse colido amostras de saliva e sêmen,
teria descoberto que seu tipo sanguíneo na verdade era AB. Mas os
antígenos B em seu sangue não estavam presentes de forma suficiente
para serem detectados.
A
única evidência real que restou para a polícia, e que poderia
ligá-lo aos crimes, era o conteúdo de sua pasta. Chikatilo então
foi condenado apenas por roubo.
LIVRE NOVAMENTE
Chikatilo
cumpriu três meses de uma pena de um ano e foi solto outra vez,
ainda em 1984. Os crimes então continuaram.
Em
dezembro, Chikatilo já estava empregado em uma fábrica de
locomotivas perto de Novocherkassk. Como antes, seu serviço incluía
muitas viagens, todas legítimas, a trabalho.
Permaneceu
sem matar até agosto de 1985, quando se aproximou de uma jovem de 18
anos com problemas mentais. Ela concordou em segui-lo até uma mata
perto da linha do trem e algum tempo depois estava morta, com marcas
de 387 facadas pelo corpo.
Chikatilo em sua jaula no julgamento
Ainda
em agosto, Chikatilo encontrou uma jovem na estação de Ônibus de
Shakhty, que disse a ele não ter onde dormir. Oferecendo a ela seu
barraco em troca de favores sexuais, guiou-a pelo caminho da
floresta. Mais uma vez ele falhou sexualmente. De novo, uma mulher
riu de seu pobre desempenho. Foi morta de imediato, sem dó nem
piedade.
Foi
pedido a Bukhanovsky um novo perfil criminal. O profissional agora
estava provido de todas as informações sobre os crimes. Num
trabalho longo e mais preciso, descreveu o assassino em série como
alguém que tinha controle de suas ações, narcisista e arrogante.
Como muitos criminosos deste tipo, achava-se mais talentoso do que
realmente era e desmerecido por seus pares. Segundo o psiquiatra, ele
não era criativo, mas seguia um plano prévio de ação. Era
heterossexual, sádico e necrófilo.
Primeiro
atingia a cabeça das vítimas, surpreendendo-as e evitando qualquer
reação, iniciando então o processo de atingi-las com inúmeras
facadas, que simbolicamente significavam penetrações sexuais.
Masturbava-se. Cegava suas vítimas por várias razões, entre elas
para impedir que sua imagem permanecesse em seus olhos, crença
popular comum. Emasculava os meninos para feminizá-los, e quando
fazia isso com meninas, manifestava seu poder sobre elas.
Provavelmente guardava os órgãos sexuais extirpados ou os
ingeria.
Uma
hipótese interessante foi levantada: o assassino tinha uma relação
estranha com as mudanças climáticas, pois antes da maioria dos
assassinatos as marcações do barômetro haviam caído. A maioria
dos crimes aconteceu entre terça e quinta-feira, dias de trabalho. A
idade do criminoso devia estar entre os 45 e 50 anos, e ele parava de
matar quando achava que corria o risco de ser descoberto.
Para
entender melhor a mente desse assassino, Bukarov, o analista forense,
entrevistou o famoso Anatoly Slivko, molestador e assassino de sete
meninos.
Achavam
que procuravam alguém parecido com ele. Esse condenado foi executado
logo após a conversa.
Em
1986, apesar de o esquadrão de investigação ainda estar
trabalhando, extra-oficialmente o caso foi passado para as mãos de
Issa Kostoyev, diretor do Departamento de Crimes Violentos de Moscou.
Ele reorganizou os trabalhos em três times: Shakhty, Rostov e
Novoshakhtinsk. Decidiu que qualquer pessoa que tivesse sido
condenada por qualquer crime com motivo sexual fosse checada
novamente. Profundas investigações começaram a ser feitas, e pode
ser por esse motivo que Chikatilo, assustado, parou de matar por
algum tempo.
Em
1987, Chikatilo assassinou um menino de 13 anos que concordou em
segui-lo atrás de alguma recompensa, durante uma viagem para a
cidade de Revda, nos Urais. Seu corpo foi encontrado nas proximidades
da estação de trem local. Em julho do mesmo ano, a viagem a
Zaporozhye, Ucrânia, resultou na morte de outro menino que o seguiu
floresta adentro. O ataque a este garoto foi tão brutal, que a faca
de Chikatilo quebrou na cena do crime, sendo encontrada pela
polícia.
Em
1988, tornou a matar no mês de abril. Desta vez, sua vítima foi uma
mulher de 30 anos, na cidade de Krasny-Sulin. Na cena do crime foi
encontrada uma pegada do assassino, tamanho 45.
No
ano de 1989, mais oito vítimas foram mortas por Chikatilo. Uma delas
no apartamento vazio de sua filha, agora divorciada. Ele embebedou
Tatyana Ryshova e a seduziu. Depois de esfaqueá-la e estuprá-la, se
deu conta de que não poderia deixar o corpo em local tão óbvio.
Utilizando-se de uma faca de cozinha, decapitou-a, amputou as pernas
e embrulhou tudo em panos. Amarrou a trouxa no trenó de um vizinho e
levou os restos mortais para um local de despejo seguro.
Outro
crime foi cometido quando Chikatilo estava indo ao aniversário do
pai. Ao ver Yelena Varga, 9 anos, não pode se conter: enganou-a para
que o seguisse até a floresta e esfaqueou-a. Deixou ali o corpo
depois de arrancar o útero e parte da face da menina.
A
última vítima de 1989 foi um menino de 10 anos, que ele conheceu em
uma locadora de vídeo. Foi morto a facadas e enterrado no cemitério
de Rostov pelo próprio assassino.
No
ano de 1990, a polícia ainda não havia resolvido os crimes, e todos
sabiam quanto estava custando o fracasso.
Entre
janeiro e novembro do mesmo ano, Chikatilo matou mais nove pessoas. A
preferência dele agora se definia por meninos. Uma das vítimas foi
Vadim Tishchenko, cujo corpo foi encontrado perto da Estação de
Trem de Leskhoz, em Rostov.
Mais
uma vez a polícia começou a montar um enorme esquema de vigilância
permanente em todas as estações de trem e ônibus das redondezas,
com policiais usando até óculos especiais para visão
noturna.
Todos
os passageiros que embarcavam diariamente eram observados. Foram
utilizadas também iscas humanas, com policiais femininas bonitas
vestindo roupas à paisana bastante provocativas. Era o desespero
instalado na polícia, que pretendia capturar, por fim, aquele
terrível criminoso que já agia havia mais de doze anos.
Outro
esquadrão foi escalado paras identificar quem vendera a passagem de
ônibus que fora encontrada ao lado do corpo do menino. Enfim, depois
de um trabalho exaustivo de entrevistas, um atendente da estação de
Shakhty reconheceu a foto do garoto. Contou à polícia que ele havia
comprado sua passagem acompanhado de um senhor alto, bem vestido e
grisalho, que usava óculos de muitos graus. O atendente também
informou que sua filha já havia visto esse mesmo senhor um ano
antes, quando ele estava em um trem conversando com um outro menino e
tentando convencê-lo a descer do trem com ele. O garoto se recusou e
fugiu. A polícia foi imediatamente conversar com a tal filha, que
deu uma descrição detalhada do sujeito.
Afirmou
que ele era freqüentador constante dos trens, sempre tentando descer
acompanhado de algum jovem.
Antes
que a polícia pudesse chegar a Andrei Chikatilo, mais uma m,oca foi
vítima dele: Svetlana Korostik, 20 anos. Foi surrada, esfaqueada e
mutilada. Desta vez o assassino arrancou a língua dela e ambos os
mamilos, antes de cobrir o corpo da jovem com galhos e folhas.
A
polícia começou então a ler todos os relatórios anteriores sobre
fatos estranhos que seus investigadores poderiam ter observado nas
estações. Ao ler o relatório do sargento Ribakov, o chefe Kostoyev
surpreendeu-se. Como aquele relato passara despercebido?
O
sargento Igor Ribakov contava que, num certo dia, trabalhando na
estação de trem, reparou em um homem andando pela plataforma,
suando profusamente. Ao chegar perto para examinar melhor, notou que
o senhor em questão tinha mancha de sangue na face e no lóbulo da
orelha, além de ter um curativo em um dos dedos da mão.
Pediu
os documentos do tal homem: Andrei Chikatilo, engenheiro sênior de
uma fábrica de locomotivas em Rostov. O policial ia fazer mais
perguntas quando um trem chegou, e Chikatilo insistiu que tinha de
seguir viagem naquele momento. Não havendo nenhuma razão real para
segurá-lo ali, Ribakov o deixou seguir seu caminho. Apreensivo, o
chefe Kostoyev resolveu checar os registros de viagem desse tal
Chikatilo.
Nesse
meio tempo, outro corpo foi encontrado na cidade de Ilovaisk, o da
menina Alyosha Voronka. Kostoyev logo descobriu que Chikatilo
estivera nessa cidade a negócios, na mesma data. O esquadrão
principal decidiu montar um esquema de vigilância permanente sobre
aquele suspeito, para tentar pegá-lo em flagrante.
PRESO NOVAMENTE
Em
10 de novembro de 1990, Chikatilo resolveu procurar um serviço de
raios X para descobrir porque seu dedo, mordido por uma das vítimas,
ainda doía tanto. Constatou-se que o dedo estava realmente quebrado.
Recebeu tratamento e foi dispensado. Ao chegar em casa, resolveu sair
outra vez para comprar cerveja. No caminho parou para conversar com
um garoto, mas afastou-se quando a mãe dele apareceu. Logo adiante
encontrou outro menino e se engajou numa outra conversa, até que a
mãe dele também o chamou. Foi então que três homens, vestindo
jaqueta de couro, aproximaram-se dele e se identificaram como
policiais. Chikatilo foi algemado e preso para averiguações, levado
para o escritório de Mikhail Fetisov, principal chefe de todos os
esquadrões.
Ao
verificar a pasta que carregava, constataram que o conteúdo era o
mesmo de seis anos antes: uma corda, vaselina e uma faca
afiada.
Encontrar
mais evidências não foi difícil. Uma busca em seu apartamento
revelou 23 outras facas diferentes, um machado e um par de sapatos
que combinava com a pegada encontrada ao lado do corpo de uma das
vítimas. O difícil para a polícia estava sendo acreditar que
aquele gentil e educado senhor de fala mansa fosse o terrível
monstro procurado fazia tanto tempo pela polícia
russa.
CONFISSÕES
Não
foi tarefa simples fazer o assassino confessar. Kostoyev jogou a
velha isca da doença mental, dizendo que se assim fosse
diagnosticado os crimes não seriam sua culpa e ele receberia
tratamento. Confrontou o suspeito com as provas circunstanciais que
tinha, mas nada fazia Chikatilo falar. Sob pressão do tempo hábil
que tinha para manter o suspeito preso para averiguações, Kostoyev
pediu a ajuda de Bukhanosvsky, que, se utilizando do perfil que havia
feito, conquistou o assassino, demonstrando que era capaz de
entendê-lo como ninguém.
Apesar
de a polícia só ter notícia, até então, de 36 crimes conectados
como de mesma autoria, Chikatilo confessou em detalhes 53 crimes,
sendo 21 meninos, 14 meninas e 18 jovens mulheres. Sua memória era
brilhante. Ele se lembrava de datas, locais e até da roupa que suas
vítimas vestiam no momento do crime. Também descreveu o método
especial que desenvolvera para matar com facas, de modo que o sangue
não espirasse nele mesmo.
O
acusado reconstituiu seus crimes utilizando-se de um manequim,
explicando todos os seus métodos de atacar, amarrar, esfaquear,
abusar, mutilar e matar. Suas vítimas eram tão severamente
mutiladas que, quando as autoridades do Uzbequistão encontraram o
corpo de uma jovem no trigal, acharam que ela tivesse caído embaixo
de uma máquina agrícola. Em outros três casos, a polícia achou
que tivesse encontrado corpos de meninas, mas depois de examinados,
constatou-se que se tratava de meninos.
JULGAMENTO E EXECUÇÃO
Em
1992, Andrei Chikatilo foi enviado ao Instituto Serbsky, em Moscou,
para uma avaliação neurológica e psiquiátrica. Ali constataram
que o criminoso tinha danos cerebrais importantes que danificavam seu
controle da bexiga e da ejaculação, mas segundo o laudo, foi
considerado mentalmente são e apto para ser julgado.
O
julgamento do também chamado Açougueiro de Rostov teve início em
14 de abril de 1992. Estavam presentes os parentes das vítimas e a
imprensa.
Chikatilo
apresentou a si mesmo como uma alma atormentada e enlouquecida por
sua impotência sexual. Descreveu em detalhes seus sangrentos crimes
e seu comportamento psicótico, causando diversos desmaios na
platéia. Durante todo o tempo, foi mantido em uma jaula de metal
para sua própria poteção.
Ao
final, o juiz declarou, com base no depoimento dos psiquiatras, que
aquele assassino estava em seu perfeito juízo mental quando cometera
os crimes.
Em
15 de outubro de 1992, Andrei Romanovich Chikatilo foi declarado
culpado por 52 assassinatos e condenado à morte. Escapou de um de
seus crimes por falta de provas.
Quando
ouviu sua sentença declarou:
-
Quero que meu cérebro seja desmontado pedaço por pedaço e
examinado, de maneira que não haja outros como eu.
A
apelação por indulgência, foi rejeitada pelo Presidente Boris
Yeltsin em 15 de fevereiro de 1994, e Chikatilo foi executado no
mesmo dia com um tiro de pistola na nuca.
Filme Evilenko (2004)
Filme Cidadão X (1995)
Fonte: Serial Killers, louco ou cruel?, Ilana Casoy
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