John
Wayne Gacy Junior nasceu em 1942 em Chicago, único filho entre duas irmãs.
O pai alcoólatra moldaria seu caráter. Na vida adulta, assumiria
várias características dele, tornando-os cada vez mais
parecidos.
John
Wayne Gacy, o pai, era guiado pelo medo de não ser bom o bastante
(deficiência de percepção), sempre achava que os outros eram
melhores que ele e o ultrapassavam na carreira profissional. Tinha um
profundo desprezo por homossexuais e políticos. Para corrigir sua
deficiência de percepção, o pai tinha de ser melhor que todos à
sua volta, especialmente melhor que o seu filho.
Para
justificar os abusos que Gacy, o pai, cometia contra o filho, sua mãe
explicava a ele que o pai tinha um tumor crescendo no cérebro e que,
quando se descontrolava, não devia ser enfrentado. Se ficasse muito
nervoso, o tumor poderia se romper e causar-lhe a morte. Todas as
refeições na casa da família Gacy eram regadas a briga.
Após
este “delicioso” encontro, o pai descia para o porão, onde se
embebedava.
Muito
cedo, acusou o filho de ser homossexual e o ridicularizava e diminuía
por isso. Gacy filho era punido por qualquer coisa que o pai
considerasse um erro. Nada do que fazia parecia suficiente para
agradá-lo. Sua relação com a mãe e as irmãs, por outro lado, era
bastante forte. A mãe também apanhava do marido, e dividia com o
filho as dores e humilhações causadas pelas surras.
Apesar
de ter como pai uma pessoa tão desagradável, o filho o amava
profundamente e desejava conseguir sua aprovação e devoção a
qualquer preço. Jamais conseguiu ter intimidade ou proximidade com
ele, problema que o perseguiria por toda a vida e causaria as
insônias incuráveis de que sofria.
Este
assassino também tinha problemas físicos: aos 11 anos, em
consequência de uma batida de um balanço na cabeça, originou-se um
coágulo que só seria descoberto cinco anos depois. Aos 16 anos,
depois de vários desmaios e hospitalizações do que pareciam ser
ataques epilépticos, o coágulo foi descoberto e tratado com
medicamentos. Jamais os médicos conseguiram convencer o pai de Gacy
de que ele desmaiava de verdade, e não apenas fingia para chamar a
atenção dos adultos.
Aos
17 anos foi diagnosticado portador de uma desconhecida doença
cardíaca, o que causaria várias internações de Gacy durante sua
vida, mas as dores que sentia jamais foram explicadas. Nunca sofreu
um ataque cardíaco.
Na
escola, mantinha relacionamento normal com os amigos, e seus
professores gostavam bastante dele. Deixou os estudos depois do
ensino médio e viajou para Las Vegas, onde peregrinou por diversos
empregos, inclusive de zelador de funerária.
Casou-se
em 1964 com Marlynn Myers, filha do dono dos restaurantes Kentucky
Fried Chicken, e teve dois filhos. Entre 1965 e 1967, John W. Gacy
era um modelo de cidadão, ao mesmo tempo que colecionava jovens
vítimas que adorava punir. Sua esposa e amigos estavam absolutamente
despreparados para a prisão de John, em maio de 1968, sob a acusação
de coação de um jovem a atos homossexuais espalhando-se por um
período de meses. Aquelas acusações ainda estavam pendentes quando
Gacy contratou um assassino adolescente para espancar a testemunha do
promotor, e mais acusações foram registradas. Conseguindo uma
negociação, Gacy confessou-se culpado de sodomia e outras acusações
foram desconsideradas.
Sentenciado
a dez anos na prisão, ele provou ser um prisioneiro modelo e foi
liberado em 18 meses.
Divorciado
enquanto estava na prisão, rejeitou os dois filhos que tivera com a
primeira esposa, tornou a se casar em 1972 com Carole Hoff (essa
segunda esposa tinha 2 filhas) e passou a viver em uma vizinhança de
classe média do subúrbio de Dês Plaines, onde era popular com seus
vizinhos e oferecia festas temáticas elaboradas para os feriados.
Por outro lado ele foi ativo como Pogo, o Palhaço, representando com
maquiagem completa em festas de crianças e eventos caritativos. Mas
apesar da vida social intensa, problemas de interesse sexual pela
esposa causaram mais um divórcio em 1976. Sua vida política ia de
vento em popa, mas novas acusações por molestar um menor acabaram
com seus sonhos de ascensão no Partido Democrata Americano.
OS FATOS
Em
11 de dezembro de 1978, Robert Piest, 15 anos, trabalhava em uma
farmácia. Sua mãe tinha ido buscá-lo no horário de saída, mas o
garoto pediu que ela aguardasse um pouco, pois antes de ir para casa,
conversaria com um empreiteiro que lhe estava oferecendo um emprego.
A mãe ficou por ali olhando as prateleiras pacientemente, torcendo
pelo esforçado filho que tinha. Pediu que ele não demorasse pois o
bolo de seu aniversário o esperava pronto, em casa. O tempo foi
passando e Robert não voltava. Depois de sair e entrar na farmácia
várias vezes sem conseguir encontrar o filho, a mãe do menino
resolveu chamar a polícia.
O
tenente Joseph Kozenczak respondeu ao chamado. Depois de ser
informado de que o nome do empreiteiro que havia oferecido emprego a
Robert era John Wayne Gacy, resolveu ir até a casa dele para
verificar. Já fazia três horas que o garoto estava
desaparecido.
Quem
atendeu à porta foi o próprio empreiteiro. O tenente explicou-lhe
sobre o garoto que desaparecera e pediu que o acompanhasse até a
delegacia, para prestar depoimento. Gacy disse ao tenente que não
podia sair de casa naquele momento, pois havia acontecido uma morte
na família e ele precisava atender a algumas ligações telefônicas.
Assim que pudesse, iria até lá.
Horas
depois, em seu depoimento para o tenente Kozenczak, o empreiteiro
John Wayne Gacy disse nada saber sobre o desaparecimento do tal
menino, mas assim que o homem saiu da delegacia, o policial resolveu
checar o passado dele. Surpreendentemente, sua ficha criminal se
encaixava com perfeição no caso.
Quanto
mais pesquisava sobre a vida de Gacy, mais espantado o tenente
Kozenczak ficava. Tratava-se de homem de grande prestígio na cidade
e ninguém parecia saber de seus antecedentes. Era membro do Conselho
Católico Inter-Clubes, membro da Defesa Civil de Illinois,
capitão-comandante da Defesa Civil de Chicago, membro da Sociedade
dos Nomes Santos, eleito homem do ano, Jaycee (Membro da Câmara de
Comércio Jovem) e tesoureiro do Partido Democrata. Muitos de seus
amigos tinham ouvido boatos sobre sua homossexualidade, mas não
deram muita atenção, pois Gacy fora casado duas vezes e tinha um
casal de filhos.
De
posse de todas essas informações, confuso e desconfiado, o tenente
Kozenczak obteve um mandado de busca para a casa do suspeito. Ele
acreditava que encontraria Robert Piest ali. Encontrou muito
mais...
Ao
vasculhar a residência do empreiteiro, a polícia se deparou com
várias evidências suspeitas:
·
Anéis gravados, alguns com iniciais
·
Sete filmes eróticos suecos
·
Vários comprimidos do sedativo Valium e nitrato de amido
·
Fotos coloridas de farmácias
·
Livros sobre homossexualidade
·
Um par de algemas com chaves
·
Uma tábua com dois buracos de cada lado, de uso desconhecido
·
Uma pistola
·
Emblemas da polícia
·
Um pênis de borracha preta
·
Seringas hipodérmicas
·
Roupas muito pequenas para serem de Gacy
·
Um recibo de filme fotográfico da Farmácia Nisson (que depois
descobriria ter pertencido a Robert Piest)
·
Uma corda de náilon
·
Duas licenças de motorista, não no nome de Gacy
·
Maconha e papeis para enrolar baseados
·
Um canivete
·
Uma mancha no tapete
·
Um livro de endereços
Três
automóveis também foram confiscados. Em um deles, encontraram-se
fios de cabelo que, depois de examinados por um laboratório forense,
seriam identificados com de Robert Piest.
John
Gacy foi intimado a comparecer à delegacia para explicar os objetos
encontrados em sua casa. Convocou seu advogado imediatamente. Foi
acusado por porte de maconha e do sedativo Valium, mas a polícia não
tinha mais nada contra ele. Tiveram de liberá-lo, mas mantiveram
vigilância vinte e quatro horas sobre o suspeito.
Outras
novidades começaram a aparecer no caso de John Gacy.
No
dia seguinte, quando recobrou a consciência, estava completamente
vestido embaixo de uma estátua, em pleno Lincoln Park. Não fazia a
menor idéia de como tinha ido parar ali. Foi até a casa da
namorada, sentindo-se muito mal. Ao tirar a roupa, não puderam
acreditar no que viam: lacerações na pele, queimaduras, hematomas.
Ringall ficou internado no hospital durante seis dias e sofreu
estragos permanentes no fígado causados pelo clorofórmio que inalou
em grande quantidade.
Já
em dezembro do mesmo ano, inconformado com a situação, Ringall
jurou encontrar seu abusador. Forçando a memória, lembrou-se de ter
visto uma certa avenida no caminho, num dos breves momentos em que
esteve consciente dentro do carro. Não teve dúvidas: pegou o
próprio carro e estacionou-o na avenida por horas, todos os dias,
até ver passar um Oldsmobile preto. Seguiu-o até a casa do
motorista, obteve o nome do morador e entrou com uma queixa-crime de
ataque sexual contra John Wayne Gacy.
Os
exames forenses nos artigos recolhidos como evidência na casa de
Gacy também começavam a frutificar. Um dos anéis encontrados
pertencia a John Szyc, desaparecido em janeiro de 1977. Teoricamente,
ele havia vendido seu carro para o empreiteiro dezoito dias depois de
seu desaparecimento. A assinatura no documento do carro era
falsa.
Também
descobriram, nas investigações, que vários empregados de John Gacy
haviam desaparecido:
John
Butkovich, 17 anos, empregou-se na PDM Contractors para financiar sua
paixão por carros. Dava-se muito bem com Gacy, até que este se
recusou a pagar-lhe duas semanas de serviço. Butkovich foi até a
casa do empreiteiro para cobrá-lo, acompanhado de dois amigos.
Tiveram uma grande briga. O garoto ameaçou seu empregador, dizendo
que procuraria as autoridades competentes para contar que ele
sonegava imposto. Gacy ficou furioso. Butkovich e seus amigos
deixaram a casa, ele deixou cada colega em sua respectiva residência
e desapareceu para nunca mais ser visto.
Michael
Bonnin, 17 anos, gostava de fazer serviços de carpintaria e sempre
se mantinha ocupado fazendo diversos projetos. Em junho de 1976, no
caminho para encontrar o irmão de seu padrasto, desapareceu. Estava
restaurando um toca-disco automático para John Wayne Gacy.
Billy
Carroll Jr., 16 anos, com vários antecedentes criminais menores,
passava a maior parte do tempo nas ruas da área residencial da
cidade. Fazia dinheiro arrumando encontros entre meninos homossexuais
e clientes adultos, por uma pequena comissão. Desapareceu em 13 de
junho de 1976. John Wayne Gacy era um de seus clientes.
Gregory
Godzik, 17 anos, trabalhava na PDM Contractors e restaurava carros.
Em 12 de dezembro de 1976, depois de levar a namorada à casa dela,
disse que iria para casa. No dia seguinte a polícia encontrou seu
Pontiac abandonado. Nunca mais foi visto.
Robert
Gilroy, 18 anos, desapareceu em 15 de setembro de 1977. Seu pai, um
sargento da polícia de Chicago, começou a procurá-lo assim que ele
não compareceu a um encontro com colegas para andar a cavalo. Sua
busca não resultou em nada. Jamais encontrou seu filho.
Desenho: em preto, localização de alguns
corpos encontrados sob a casa de Gacy
A
polícia também descobriu que o recibo de filme da Farmácia Nisson
era de um colega de trabalho de Robert Piest, que havia entregado a
ele no dia de seu desaparecimento para que fosse revelado. Resolveram
investigar de novo a casa de Gacy, que, pressionado, acabou
confessando que matara uma pessoa, mas que o crime fora em legítima
defesa. Fez um mapa para os investigadores, assinalando um local na
garagem onde havia enterrado o corpo.
Gacy
foi o responsável por 33 vítimas de tortura e assassinato. Quando o
chão de sua casa foi removido, vários corpos em covas rasas foram
encontrados. Para evitar a decomposição, Gacy os cobrira com cal.
Acabou fazendo um meticuloso mapa para a polícia, indicando com
precisão 27 corpos ali enterrados. Outros dois cadáveres foram
encontrados embaixo do chão da garagem. No rio Des Plaines em
Illinois também foram encontradas vítimas, pois Gacy explicou a
polícia que começou a jogá-las ali por não ter mais local
disponível para enterrá-las em sua casa. Também justificou que
sofria de constante dor nas costas, que o impedia de cavar tanto.
O
corpo de Robert Piest só foi encontrado em 1979, no rio Illinois. Na
sua necropsia, ficou comprovado que ele morrera sufocado com toalhas
de papel, cujos restos ainda foram encontrados em sua garganta. A
família do garoto processou Gacy, o Departamento Condicional do
Estado de Iowa, o Departamento Correcional e o Departamento de
Polícia de Chicago para obter uma indenização de 85 milhões de
dólares por procedimento negligente.
Gacy
atraía as vítimas para sua casa com promessas de emprego em
construção civil ou pagamento em troca de sexo. Uma vez ali, eram
algemados para a demonstração de um truque: a pessoa não podia
mais se soltar!
A
maioria de suas vítimas sofria ataque sexual, era torturada e
estrangulada com uma corda apertada vagarosamente por intermédio de
uma machadinha, no estilo garrote. Gostava de ler passagens bíblicas
enquanto fazia isso. Quase todos os garotos morreram entre 15h e 18h.
Algumas vezes, Gacy se vestia como seu alter ego, o palhaço Pogo,
enquanto torturava suas vítimas. Para abafar os gritos delas,
colocava uma meia ou cueca na boca delas. Essa era sua assinatura:
todas as suas vítimas tinham as roupas de baixo na boca ou na
garganta. Em certas ocasiões, chegou a matar mais de uma vítima no
mesmo dia.
Também
contou à polícia que guardava o corpo da vítima sob a cama ou no
porão antes de enterrá-lo embaixo da casa. Segundo ele, seus crimes
eram cometidos por sua outra personalidade, que ele mesmo chamava de
Jack Hansen. Este argumento nunca ficou comprovado pelos 13
psiquiatras que testemunharam em seu julgamento.
Em
seus depoimentos para a polícia, John Gacy alegou que havia quatro
Johns: o empreiteiro, o palhaço, o político e o assassino. Muitas
vezes, durante seu depoimento, ao ser questionado sobre algum detalhe
dos crimes, ele respondia: “Você tem de perguntar isso a Jack.”
Ao terminar o diagrama do local onde estavam enterrados os corpos,
embaixo de sua casa, Gacy dramaticamente desfaleceu. Ao acordar,
disse que Jack havia feito o diagrama.
Declarou
lembrar-se, e de forma incompleta, de apenas cinco dos assassinatos
que cometera. Alegava que mesmo essas memórias não pareciam ser
dele, e sim de outra pessoa. Ele era apenas uma testemunha. A grande
maioria dos assassinos hediondos alega ter múltiplas personalidades,
como meio de escapar da pena de morte. Por esta razão, essas
alegações são vistas com ceticismo pelos médicos, advogados e
policiais.
Nos
testes psicológicos a que foi submetido pelo Dr. Thomas Eliseo, ele
se negou com veemência a desenhar um corpo humano do pescoço para
baixo, como se fosse algo ruim ou de que devesse se manter
longe.
Quando
examinado pelo Dr. Robert Traisman, Gacy foi mais cooperativo e
desenhou o corpo todo. Em sua análise, achou significativo o fato de
o paciente desenhar a mão esquerda cheia de detalhes e a mão
direita muito pequena, coberta com uma luva. Sua explicação para
isso no tribunal foi que o lado direito era seu lado masculino,
enquanto o esquerdo simbolizava o feminino. Interpretou esse
desequilíbrio como se Gacy tivesse dificuldade na sua identidade
sexual. Ao desenhar uma figura feminina para o mesmo psicólogo, esta
foi considerada “maciça, com aparência masculina e braços de
jogador de futebol americano.” A figura feminina usava um cinto de
duas voltas, as pontas caindo sobre sua área genital, o que o Dr.
Traisman considerou “um óbvio símbolo fálico, sugerindo forte
ansiedade sexual.”
Quando
solicitado a desenhar qualquer coisa de sua escolha, Gacy desenhou
sua própria casa, com os tijolos detalhados em excesso, tudo
reproduzido fielmente. Para o Dr. Traisman, isto refletia uma
“tremenda compulsão e perfeccionismo.”
Todos
os sete psiquiatras que examinaram Gacy para seu julgamento
concordaram que ele era inconsistente e contraditório, mas nenhum
deles o diagnosticou como portador de múltiplas personalidades.
Nenhum deles achou que ele era incapaz para ser julgado.
O
Dr. Lawrence Freedman diagnosticou-o um pseudoneurótico
esquizofrênico paranóico. Disse que Gacy era um homem que não
tinha certeza de quem era, e de tempos em tempos manifestava
diferentes aspectos de sua personalidade.
O
Dr. Richard Rapport o descreveu como portador de uma personalidade
fronteiriça e que, invariavelmente, tudo o que dizia apresentava
dois lados.
O
Dr. Eugene Gauron diagnosticou Gacy como um sociopata.
O
Dr. Robert Reifman o considerou narcisista e mentiroso patológico.
O
julgamento de John Wayne Gacy teve início em 6 de fevereiro de 1980
em Chicago, Illionois.
A
acusação iniciou os trabalhos, por intermédio do promotor Robert
Egan. Foram ouvidas 60 testemunhas sobre sua sanidade mental. Muitos
psiquiatras também testemunharam sobre a sanidade réu durante os
ataques mortais. Todos concluíram que ele estava na total posse de
suas faculdades mentais quando de seus atos, e que saiba muito bem
diferenciar o certo do errado.
A
primeira testemunha de defesa, composta pelos advogados Motta e
Amirante, chamada para depor, para surpresa de todas, foi Jeffrey
Ringall. Esperava-se que ele fosse testemunha da acusação, e não
da defesa. Seu testemunho foi curto. A acusação queria que ele
dissese ao júri que achava que Gacy não tinha o menor controle
sobre suas próprias ações. Enquanto contava os detalhes do ataque
sexual e tortura que sofrera, Ringall começou a vomitar de modo
incessante e a chorar, descontrolado. Seu depoimento foi
interrompido, ele não tinha condições emocionais de
continuar.
Para
provar a insanidade de Gacy, seus advogados chamaram amigos e família
para depor. Sua mãe contou como ele havia sofrido abusos físicos e
verbais do pai. Suas irmãs disseram ter presenciado as inúmeras
vezes em que foi abusado e humilhado. Outros que testemunharam em sua
defesa contaram ao júri como ele era generoso e bom, ajudava os
necessitados e sempre tinha um sorriso para todos. Alguns depoimentos
acabaram atrapalhando a defesa de Gacy, pois seus amigos se negaram a
declarar que o achavam insano, e sim homem dotado de uma inteligência
brilhante.
Outros
psiquiatras foram chamados para dar seu próprio diagnostico. Todos
declararam que Gacy era esquizofrênico e sofria de múltiplas
personalidades e comportamento anti-social. Declararam que sua doença
mental o impedia de perceber a magnitude de seus crimes.
Demorou
apenas duas horas de deliberação para que o júri decidisse em quem
acreditar: John Wayne Gacy foi considerado culpado da morte de 33
jovens e recebeu pena de morte por injeção letal.
Foi
mandado para o Menard Correctional Center, em Chester, Illinois,
onde, depois de anos de apelações, foi executado.
ANOS DE PRISÃO
Durante
os catorze anos em que ficou preso, Gacy teve a mesma rotina:
acordava às 7h, esfregava o chão de sua cela de 1,80 por 2,5
metros, olhava sua correspondência volumosa e trabalhava em suas
pinturas. Ao ir para a cama, às 3h da madrugada, já tinha anotado
cada ligação telefônica, visitantes (mais de 400) e cartas
recebidas (27 mil), assim como cada pedaço de comida que ingerira.
Estas anotações haviam se tornado uma obsessão.
Na
prisão dedicou-se em demasia à pintura artística. Seu tema
principal eram palhaços, e muitas pessoas pagaram caro para obter
algumas de suas telas. Seus quadros foram exibidos em galerias por
toda a nação americana. Gacy pintou vários auto-retratos,
palhaços, Jesus e Hitler, chegando a vender cada tela de 100 dólares
até 20 mil dólares. Pintava também artistas pop, como Elvis
Presley, e personagens Disney, como Roger Rabbit e Branca de Neve e
os Sete Anões. Criminosos notórios também foram retratados, como
Charles Manson, Al Capone e John Dillinger. Chegou a ganhar perto de
140 mil dólares com sua arte macabra. Ficou tão conhecido que foi
habilitado a instalar um número de telefone 0900, onde podiam ouvir
mensagens gravadas com sua voz clamando por sua inocência,
pagando-se 1,99 dólar o minuto. Acredite, muitas pessoas ligavam
para ouvir essas mensagens e pagavam por esse serviço.
Com
o decorrer dos anos, aguardando as apelações que seus advogados
faziam, Gacy divorciou-se, fez psicoterapia, tentou suicídio e se
tornou alcoólatra.
MORTE
No
seu último dia de vida, 10 de maio de 1994, Gacy recebeu a vista de
sua família e seus amigos na Penitenciária Stateville em Joliet,
Illinois.
A
última refeição, escolhida por ele, foi frango frito (Kentucky
Fried Chicken), camarão frito, batatas fritas e morangos
frescos.
Às
21 h, foi pedido que todos os familiares e amigos se retirassem, mas
Gacy poderia ficar até às 23h em companhia de um ministro
religioso, se assim fosse sua vontade.
Reportagem sobre o Palhaço Assassino
(para ativar legenda em português, clicar no retângulo ao lado do pequeno relógio
na base do vídeo)
Nesse
horário foram iniciados os preparativos finais. Foi oferecido a Gacy
um sedativo. Exatamente a 00h01 ele foi retirado de sua cela,
amarrado a uma maca e recebeu uma solução salínica intravenosa no
braço. Foi dada a ele, então, a chance de pronunciar suas últimas
palavras, que foram:
-
Kiss my ass! (Beije minha bunda!)
A
identidade dos executores sempre é mantida em sigilo, e é um
trabalho voluntário. Todas as testemunhas da execução, através de
uma janela, observam ser ministrada no condenado uma primeira dose de
solução salínica, seguida por outra de sódio tiopental, um
anestésico que o faria dormir pela última vez.
Em
seguida, o brometo de pancuronium começou a entrar nas veias, para
que seu aparelho respiratório fosse paralisado. Na seqüência, o
cloreto de potássio pararia seu coração. O processo todo não
deveria demorar mais que cinco minutos...
John
Wayne Gacy levou dezoito minutos para morrer. O tubo por onde o soro
estava sendo ministrado entupiu. Gacy bufou. Tão logo isso
aconteceu, os atendentes da câmara da morte fecharam as cortinas em
volta dele e começaram a lutar para desentupir o tubo. Trocaram por
outro. Os olhos do prisioneiro se abriram pela última
vez.
Finalmente,
as duas últimas drogas encontraram caminho livre para dentro do
corpo de Gacy. O monstro estava morto...
Se
pudesse ter assistido ao que se passava do lado de fora, o palhaço
Pogo teria adorado o circo que se instalou ali. Todas as redes de
radio e televisão estavam no local, alem de espectadores em geral.
Quanto mais o relógio se aproximava da meia-noite, mais o povo ali
presente cantava, brindava e se comportava como se estivesse num show
de rock. Pouquíssimas pessoas estavam ali para protestar contra a
pena de morte.
Adolescentes
vestiam camisetas com inscrições criativas, como “meus pais
vieram à execução de Gacy e tudo o que consegui foi esta estúpida
camiseta.”, ou “Nenhuma lágrima para o palhaço.”
Minutos
depois da meia-noite, todos começaram a brindar e cantar mais alto.
Garotas subiam nos ombros dos namorados, segurando lanternas.
Nada
disso diminuiu a tristeza dos pais que perderam os filhos para
sempre... Morria, nessa data, o misterioso assassino que se escondia
atrás da máscara de um palhaço. Morria ali um louco com uma mortal
necessidade de jovens vítimas, e com ele o segredo da identidade de
várias delas.
Em
1998, vinte anos após os crimes de Gacy, novas buscas foram feitas
num local perto de onde a mãe dele morava. Vários investigadores
acreditam que Gacy matou muito mais gente do que o número de corpos
encontrados, porém nenhum corpo além dos 33 anteriores jamais
apareceu.
Fonte: Serial Killers: louco ou cruel?, de Ilana Casoy
Murderpedia.org